\"o temor perene das mãos\": Al Berto e a escritura do medo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Sasaki, Leonardo de Barros
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8150/tde-29072019-162206/
Resumo: O poeta Al Berto construiu uma obra profundamente assentada no trabalho com as emoções através de um discurso em sintonia e tensão com os gêneros autobiográficos canônicos, marcado pelo excesso, pela obsessão, pelos sentidos do corpo e pelo senso do desconhecido. Sua poesia localiza-se, assim, nos antípodas de uma escrita retida, decantada, calculada, abstratizada, filosofante, teorizante e demais predicativos nesse campo. Nessa perspectiva, em específico, o medo mostra-se central como instrumento ou, ainda, como canal privilegiado e estruturante de sua práxis poética. Interessa-nos, nessa direção, entender a) de que forma se estabelecem, a partir de sua obra, as relações entre o medo e a literatura; b) como ocorre a formulação de um sujeito lírico irremediavelmente marcado por tal emoção em suas causas e efeitos os sentimentos de insegurança, descontrole, vulnerabilidade, pessimismo, fatalismo etc.; e c) sob qual perspectiva e com qual tratamento figuram medos arquetípicos a saber: das catástrofes, das doenças e da morte. Ao mobilizar a memória cultural literária, inclusive da emoção, Al Berto transforma-a, precisamente no trabalho com a linguagem, em força polissêmica e motriz de sua escrita. É o atrito constante e jamais apaziguado do paradoxo daquele que escreve contra o medo e que o alimenta ao fazê-lo. A emoção, assim, é mediadora de movimentos simultâneos de ordem e caos, atração e aversão, saúde e doença, criação e destruição. Em contiguidade com tal dinâmica, organizamos os capítulos através de figuras igualmente ambivalentes são os casos, respectivamente, dos naufrágios, do contágio e do suicídio. Neles, Al Berto frequenta paradigmas históricos do medo e os coloca em terreno semântico instável. Assim, naufrágios tornam-se também manifestações do elemento humano; as pestes, uma maneira de partilha; os suicídios, a possibilidade de trânsito entre vida e obra. Al Berto recupera, por fim, a duplicidade originária da palavra risco, isto é, abre-se para suas possibilidades negativas e positivas, em fricção, no poema.