Experiências de crianças surdas com a palavra escrita

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Silva, Rosane Aparecida Favoreto da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-29092020-173654/
Resumo: Investigou-se o processo de apropriação da língua portuguesa escrita por crianças surdas, sinalizantes de Libras, descrevendo os seus dizeres sobre a escrita e analisando as produções induzidas durante a pesquisa. As seis crianças colaboradoras, com diversos graus de fluência em Libras, cursavam a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental. A pesquisa caracterizou-se como qualitativa, descritiva e de cunho exploratório, utilizando entrevistas e um conjunto de procedimentos e atividades a partir da contação de uma história em Libras. As crianças foram mobilizadas a escrever palavras, textos, completar histórias, criar personagens e fazer desenhos. Foi utilizada a Libras para a comunicação e as entrevistas foram gravadas em vídeo, traduzidas e textualizadas na língua portuguesa escrita. Adotou-se como pressuposto que as pessoas surdas fazem parte de um grupo minoritário linguístico e que utilizam uma língua visual e gestual como sua primeira língua. Esse pressuposto interfere em como se processa a apropriação da escrita da língua portuguesa, uma vez que as crianças surdas mobilizam habilidades diferentes daquelas das crianças ouvintes que, por exemplo, associam a pauta sonora com a escrita no processo de apropriação do sistema alfabético; desta forma, interfere também no processo de elaboração de textos, tendo em vista o aspecto morfossintático de cada língua. A investigação mostrou que as crianças se comunicam e interagem em língua de sinais, mas possuem dificuldades em estabelecer relações entre essa língua e a língua portuguesa, em particular na sua forma escrita. Na análise dos dados, constatou-se que inicialmente não há distinção no processo de apropriação da língua portuguesa das crianças surdas em relação àquelas que são ouvintes; entretanto, há uma diferenciação quando as crianças ouvintes começam a corresponder o som com a grafia, caracterizando um ponto de virada para o entendimento do mecanismo da escrita. A pesquisa problematiza o que pode ser tomado como o ponto de virada para que as crianças surdas entendam o funcionamento da escrita. Verificou-se que elas utilizam pistas visuais e fazem conjecturas que podem estar relacionadas à consciência visual. Esse ponto de virada para a apropriação da escrita pelas crianças surdas pode ser favorecido com um letramento bilíngue que envolva elementos como a escrita de sinais, a escrita diferida e a escrita bilíngue. Evidenciou-se a importância do trabalho com gêneros textuais em língua de sinais, das tecnologias digitais e do partilhamento de artefatos culturais, identitários e linguísticos. A pesquisa realça a importância da mediação de professores e profissionais da escola para ampliar as possibilidades de que as crianças percebam pistas visuais da grafia da palavra, façam a leitura de imagens e criem hipóteses sobre a escrita. Por fim, a pesquisa problematiza e questiona a formação destes professores e suas possibilidades de atuação, mesmo no caso de professores surdos, quando a maior parte do trabalho didático com alunos surdos, erroneamente, concentra-se nas relações entre a fala e a escrita.