De centro a periferia: as transformações sofridas pelo Nordeste Paulista na chegada do café (1873 - 1905)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Costa, Rafael Giorgi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16139/tde-02092016-164129/
Resumo: Este estudo teve como objetivo avaliar a influência do mercado externo (agroexportação) no desenvolvimento do mercado interno de abastecimento, durante o século XIX, no Estado de São Paulo. Primeiramente, foram coletados e sistematizados os dados referentes à composição social e à produção de alimentos para os anos de 1836 e 1854, revelando regiões da Província de São Paulo onde se concentravam diferentes circuitos do mercado interno de abastecimento, não só no que se refere ao artigo produzido como também à quantidade e ao valor gerado. Com base nos resultados, realizou-se pesquisa bibliográfica específica para cada região, o que permitiu a caracterização mais completa das formações sociais em questão e, com isso, a definição de dois setores bem distintos do mercado interno: pecuário e alimentício. O mercado pecuário, concentrado no Nordeste Paulista e nos caminhos do sul, possuía circuitos mais longos e enriquecedores do que o mercado de gêneros alimentícios, por sua vez majoritariamente localizado em meio às zonas agroexportadoras de café e açúcar, fator que limitava seu desenvolvimento. O Nordeste Paulista, mais especificamente o município de Franca, foi responsável por articular o Brasil central pecuário (Goiás, Mato Grosso e Triângulo Mineiro) com a faixa litorânea centro-sul (Rio de Janeiro e São Paulo), constituindo-se como importante centro de cria e (re)engorda. Operou nessa centralidade uma elite composta principalmente de fazendeiros chefes-de-parentelas, cuja reprodução como classe dominante envolvia sua inserção em cargos políticos e militares, a propriedade da terra e, consequentemente, o domínio sobre grande contingente populacional, incluindo agregados, escravos, compadres e parentes. A fim de avaliar se essa centralidade do mercado interno resistiu ao avanço cafeeiro que atingiu a região na década de 1880, questão ainda em aberto na historiografia, procurou-se pela presença das parentelas e suas linhagens nas listas dos maiores fazendeiros do período de transição. Revelou-se que a elite não só se inseriu como foi protagonista da economia cafeeira na região nas décadas de 1880 e 1890. No entanto, já na virada do século, todo o Estado de São Paulo sofreria com uma forte crise na economia cafeeira, demonstrando a fragilidade e suscetibilidade do mercado externo. Os dados da produção cafeeira do ano de 1905 apontam para a baixa relevância de Franca e Batatais no universo da agroexportação, enquanto os números da produção de gado desse mesmo ano indicam o deslocamento do eixo principal de articulação pecuária para oeste, mais precisamente para os municípios de Jaboticabal e Barretos, que assumiram a primazia no setor. Conclui-se que a aproximação da agroexportação impôs a reestruturação do mercado interno para áreas contíguas, devido ao grande desvio de investimentos por parte daquela elite pecuária para a economia cafeeira, o que revelou, em última instância, a dificuldade de ancoragem da produção endógena no espaço quando seu território se mostra atrativo para o estabelecimento da agroexportação.