A referenciação nas narrativas contadas por surdos fluentes em cena, a língua sinalizada de Várzea Queimada, Jaicós-PI

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Neres, Bruna Rodrigues da Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-04102024-191644/
Resumo: Várzea Queimada é um povoado situado no município de Jaicós, no estado do Piauí, com cerca de 900 habitantes. O destaque dessa comunidade tem sido o artesanato produzido pelas mulheres locais, bem como, a língua sinalizada que vem ganhando reconhecimento no cenário nacional e internacional do estudo de línguas minoritárias. Esta pesquisa tem como objeto de interesse a cena, língua utilizada pela comunidade composta por 33 surdos, que habitam o povoado. A cena é uma língua originária do Piauí, pois emergiu a partir da interação entre os falantes da localidade sem haver ocorrido o contato com outra língua de sinais, diferenciando-se da Língua Brasileira de Sinais (libras), utilizada pela comunidade surda do Brasil (Almeida-Silva & Nevins, 2020); (Pereira, 2013). Os objetivos da pesquisa são: descrever as estratégias de referenciação e a constituição do significado em uma história sinalizada por uma surda fluente em cena; comparar as semelhanças e diferenças do processo de referenciação nas narrativas sinalizadas em libras e cena. Este trabalho se delineia nos construtos da Linguística Cognitiva que evidencia a relevância da cognição e da experiência corporal do falante com o desenvolvimento da linguagem. Conforme Liddell (2003), as referências dêiticas e anafóricas das línguas sinalizadas têm estreita relação com o espaço físico, pois nele são feitas associações às representações mentais dos referentes. A realização desta pesquisa envolveu visitas de campo, pois foi necessária minha presença in locu para proceder a uma observação participante a fim de coletar os dados junto aos colaboradores fluentes em cena. A história eleita para ser narrada foi a História da Pera produzida em 1970 por Chafe e uma equipe de pesquisadores. A partir das gravações, os vídeos foram transcritos com o auxílio do Programa ELAN (Eudico Language Annotator) com enfoque na análise das ocorrências de introdução e retomada dos referentes. A partir da análise dos dados, concluímos que a principal diferença no modo de fazer introdução referencial em libras e em cena é que em libras, o narrador organiza o discurso, geralmente utilizando um nominal seguido de gestos e apontamentos, de modo que a cada retomada das entidades é utilizada cada vez menor quantidade de material fonológico. Na história contada em cena, a maioria das ocorrências de introdução também aconteceram por meio de nominais, porém em alguns casos, a narradora fez a apresentação dos referentes por pantomimas e gestos. À medida que os referentes foram retomados, ora houve acréscimo de conteúdo informacional, ora houve redução de material fonológico. O cotejo entre as narrativas leva a crer que a diferença no modo de introdução acontece porque a libras é uma língua com uma gramática mais habitual, ou estável, enquanto a cena está em processo de desenvolvimento com uma gramática ainda não consolidada que parece estar em compreensão pelos usuários da língua. Porém, ambas são efetivas para fins interacionais e têm igual valor. Acerca do processo de construção da significação por uma narratária ouvinte, os dados evidenciaram que algumas informações mais gerais da narrativa foram recuperadas, porém muitos referentes não foram identificados, o que revela que não houve compreensão plena dos fatos narrados, mas houve um grau de entendimento da contação da história