O Éden de Arthur Miller - elementos bíblicos e existencialistas na peça \'A Criação do Mundo e Outros Negócios\': seriedade e crítica em uma obra cômica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Feldman, Alexandre Daniel de Souza
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8152/tde-09112007-151435/
Resumo: Na peça A Criação do Mundo e Outros Negócios Arthur Miller recorre à comédia, à imagética bíblica e a fragmentos de narrativas do midrash para compor com uma linguagem simples e popular, porém altamente significativa, (re)interpretações da História Primeva dotadas de um profundo senso crítico fortemente influenciado pelo pensamento existencialista. O dramaturgo expõe nesta comédia, igualmente como faz em outros escritos, questões contundentes do mundo contemporâneo, alertando, permanentemente, a partir de uma perspectiva humanista, para a necessidade de consciência e responsabilidade humanas. Desde o início de sua carreira o autor norte-americano emprega metáforas bíblicas que, de forma consciente ou não, refletem sua identidade, intimamente ligada às narrativas absorvidas no meio social. Ao associá-las ao pensamento existencialista que permeia sua obra dramatúrgica, Miller compõe um mosaico de idéias que opera dialogicamente diferentes significações e permite as mais diversas interpretações e leituras. Assim, valendo-se de ironia, humor e sarcasmo, iniciando pelo mito da Criação bíblica, passando pela história de Adão e Eva e da tentação, culminando com o fratricídio cometido por Caim, contra seu irmão Abel, o dramaturgo recria, à sua maneira e incorporando um complexo de preocupações temáticas que permeiam a literatura ocidental, os primeiros eventos da Bíblia descritos no livro de Gênesis. Para fazê-lo, o autor se serve habilmente de um estilo que se assemelha à exegese rabínica justamente por buscar nas narrativas e imagens dessa tradição as bases que dão forma e conteúdo à peça, criando uma alegoria simbólica que exibe mito e história ao mesmo tempo em que revela uma profunda frustração moral proveniente da filosofia existencialista absorvida de textos de Sartre e Camus. A investigação do riso como uma reflexão sobre a linguagem e o pensamento, bem como a percepção de que os conceitos e a crítica presentes na tessitura da comédia são tão contundentes e incisivos quanto os encontrados em outras obras suas, evidencia que o cômico não implica ausência de seriedade e que, a despeito de algumas falhas na concepção, a peça oferece mais do que risos e reflexões. Ela proporciona uma aventura intelectual sobre a investigação do mal moral e exige do público e dos críticos um desdobramento para além do material encenado. Portanto, A Criação do Mundo e Outros Negócios demanda um aprofundamento analítico que perscrute nos textos que com ela se inter-relacionam o subsídio necessário para se fazer um exame crítico mais apurado de toda a carga semântica proveniente do conteúdo bíblico, das narrativas do midrash, dos elementos existencialistas, da linguagem coloquial e do próprio gênero cômico, para assim, ao final, reconhecer seu valor artístico e sua significação no conjunto da obra daquele que foi considerado um dos maiores dramaturgos do século XX.