Entre percursos e berros: o eu entretecido por fios de memória em Wanda Ramos e em Tereza Albues

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Pereira, Leonice Rodrigues
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-21102010-123220/
Resumo: Esta tese efetua uma leitura comparada das obras Percursos (Do Luachimo ao Luena), publicada em 1981, pela portuguesa Wanda Ramos (1948 1998), e O Berro do Cordeiro em Nova York, escrita em 1995 pela mato-grossense Tereza Albues (1936 2004), focalizando a memória enquanto elemento estético literário organizador da narrativa, cuja gênese está ligada ao ato de recordar as experiências de vida pela personagem principal a partir das relações sociais, constituídas durante todo o percurso de sua existência e, de modo especial, no presente da narração. Ao tecer a própria história, o eu é sujeito e objeto da sua percepção e da abordagem discursiva. Ao rememorar e construir sua história de vida sempre à luz do ficcional, as protagonistas atribuem uma espécie de unidade ao eu textual que se distingue do eu da experiência, descontínuo e fragmentado pela infinitude da existência em oposição ao mundo finito, fixado através da linguagem escrita; pela vulnerabilidade do vivido, impossível de ser apreendido pelo sujeito na totalidade, e pela fragmentação do ser em constante mobilidade. A rememoração no ato criador das duas narrativas literárias mencionadas vem acompanhada do imaginário ficcional, capaz de preencher as lacunas provocadas pelo esquecimento e pela limitação da percepção e da apreensão do vivido pelas protagonistas. Por considerar o ato de lembrar intrinsecamente ligado às relações interpessoais, a memória como uma habilidade psicológica do ser humano, que depende dos signos para se fazer expressar e que os signos possuem significados constituídos socialmente, o suporte teórico desse trabalho é norteado pelos estudos de Halbwachs e de Bakhtin, acrescidos das abordagens de Walter Benjamin referentes à habilidade de narrar como uma das peculiaridades fundamentais do ser humano intimamente ligada ao processo mnemônico. Este estudo nos leva a entender que a formação das protagonistas revelada, construída e apresentada no final dos textos por meio do discurso metalingüístico está entrelaçada às próprias escrituras do eu, tendo como ápice desse processo a autonomia da obra de arte em relação a seu criador.