A etnomatemática da alma A\' uwe-xavante em suas relações com os mitos.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Costa, Wanderleya Nara Gonçalves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-22042008-112324/
Resumo: Esta pesquisa desenvolveu-se a partir de uma indagação acerca do relacionamento entre a etnomatemática, os mitos e os ritos do povo indígena A\'uwe-xavante. Subjacente a essa questão estava o objetivo de contribuir para com a formação de professores que irão atuar num ambiente onde diferentes povos e culturas se relacionam cotidianamente, e onde se torna importante/necessário desnaturalizar práticas discursivas que contribuem para com a manutenção da situação marginal em que se encontram muitos povos indígenas brasileiros. Para abordar o problema optei pela utilização de alguns princípios orientadores sugeridos por Ferreira Santos (2004): a recondução dos limites, a complexidade, a recursividade, a autopoiesis, a razão sensível, a multidisciplinaridade e a neotenia humana. Considero que juntos esses princípios são capazes de problematizar nossos hábitos de pensamento, argumentar em torno do íntimo relacionamento entre pensamento mítico e pensamento lógico-matemático, de contrapor-se à separação cartesiana entre história e mito, de questionar a racionalidade científica como modelo de pensamento e de valorizar a afetividade e a diversidade humana. Por sua vez, a fundamentação teórica deu-se a partir dos estudos de Lévy-Bruhl, Piaget e Vygotsky sobre o relacionamento entre mente, corpo e meio. A discussão prosseguiu em torno da exposição e do contraponto de idéias sobre os Símbolos, advindas da semiótica, da psicologia profunda e da antropologia. Em seguida, como uma complementação aos estudos históricos de Spengler (1973), foram analisadas mitocosmologias gregas, ocidental/cristã e A\'uwe-xavante. Tais análises se deram em torno de categorias surgidas a partir dos próprios mitos, da obra de Spengler e de escritos de Foucault. Algumas dessas categorias são: tempo, números, espaço, símbolo primordial, teogonia e religiosidade, poder, discurso verdadeiro e valores, dentre outros. Foi uma concepção de análise capaz de considerar categorias tão diversas, atrelada ao método e à forma de relato (que explora a metáfora do Labirinto), que tornou possível considerar aspectos sociológicos, antropológicos e narrativos, dentre outros, dos quais emergiram etnomatemáticas, identidades, formas de subjugar, métodos disciplinares, práticas discursivas e não discursivas, referências sagradas e profanas, míticas e históricas. Concluí então que a etnomatemática dos A\'uwe-xavante - que tenho chamado de Etnomatemática Parinai\'a - está inextricavelmente relacionada aos mitos e ritos do povo que a produziu/produz. Esse reconhecimento, bem como do fato de que o ensino de matemática veicula, além de conhecimentos, valores, crenças, mitos, símbolos e representações, que nos marcam e conformam, dilaceram ou fortalecem, levaram-me a sugerir que um maior conhecimento das etnomatemáticas implica o estudo dos mitos fundantes. Sugiro ainda que o professor ou consultor que atue segundo a perspectiva de respeito e valorização das diferentes etnomatemáticas deve ressaltar os mitos subjacentes a elas. Assim, a educação matemática que ocorre junto às populações indígenas estará buscando atuar no sentido de respeitar \"a alma\", a dimensão simbólica da identidade dos diferentes povos.