Pedras artesãs: materialidade, tecnologias e mobilidades das panelas de pedra-sabão em Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Santos, Vinicius Melquiades dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-26092018-171443/
Resumo: A ampla utilização da pedra-sabão na arquitetura em Minas Gerais no período colonial relegou às panelas pedra-sabão um lugar marginal, vistos como objetos mundanos e comuns, oriundos dos trabalhos manuais e ofícios banais que existiam e, no caso dos artesãos paneleiros, permanecem até hoje. Atualmente, além da produção e comércio, esses artefatos se encontram em museus, coleções particulares e sítios arqueológicos da região. De uma maneira geral, as panelas, sua produção e seus produtores são associados a uma identidade regional e nacional, vinculada às artes, ao Barroco mineiro e a Aleijadinho. As panelas são consideradas majoritariamente como contentoras de significados porem, não recebem a devida atenção no que se refere às agencias, nuances e gradações de suas relações. Essas associações diretas acabam por desconsiderar ou reduzir a participação de outros agentes ou seres, como é o caso dos artesãos paneleiros e das próprias panelas. O exercício central consiste na construção da história de vida dessa população de artefatos, partindo de suas materialidades e abordando a permuta de propriedades entre pessoas humanas e coisas. Assim, surgiram apontamentos sobre as maneiras como elas ressoam e compõem o coletivo, entendido como alargamento do termo social e aplicado aos diferentes contextos e situações espaço-temporais. Partindo da confluência de etnografias, que envolvem a análise de coleções arqueológicas, a vivência e acompanhamento na comunidade de artesãos de Cachoeira do Brumado (Mariana) e na Feira de pedra-sabão de Ouro Preto, os processos de musealização e patrimonialização, entre outros, foi possível redefinir de maneira equânime os lugares e as participações desses agentes (artesãos e artefatos). Também vieram à tona relações de constituição mútua vividas no cotidiano, das quais as materialidades são tessituras associadas às tecnologias e mobilidades compartilhadas entre pessoas e coisas. Os modos de vida e existência e os gestos e técnicas presentes nos eventos e processos de constituição desses artefatos se manifestam coletivamente e sugerem dinâmicas das quais participam seres humanos diversos. Percebida dessa maneira, a abordagem construída segue na contramão das informações oficializadas e difundidas sobre esses artefatos, as quais historicamente vêm contribuindo com a institucionalização e naturalização de perspectivas simplistas e excludentes que têm impacto direto na vida dos seres e coletivos nas múltiplas temporalidades. A partir de perspectivas simétricas criticamente aplicadas à Arqueologia, apontamos para um abandono ontológico destes objetos - panelas de pedra-sabão - que transpassam os seres e coletivos, justificados e percebidos por meio de uma série de estigmas, tais como a desabilidade dos gestos e a inferioridade do trabalho manual. Por fim, torna-se possível refletir sobre o potencial de posições teóricas que se opõem à ditadura das ontologias binárias, além de uma aproximação da dinâmica das relações artesãos-artefatos para o contexto de produção do conhecimento científico, colocando as oficinas em patamar análogo aos laboratórios, museus e instituições de pesquisa.