Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Mazza, Amanda Guedes |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-17012025-120643/
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Resumo: |
Em 2014, o Brasil protagonizou manchetes de diversos jornais por ter saído do chamado Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU). Apenas alguns anos depois, a própria fome é que mais uma vez assumia a centralidade das notícias. Especialmente no período de 2019 a 2022, marcado por uma gestão presidencial neoconservadora e pela pandemia global de COVID-19, os dados chegaram a indicar que 58,7% da população teria enfrentado algum tipo de insegurança alimentar. Paralelamente a isso, e diante da aparente contradição entre essas informações e os expressivos lucros do agronegócio, ideologicamente situado como a base da produção alimentícia do país, alguns discursos emergem para (I) conceituar a fome; (II) explicar as razões de sua existência; (III) propor soluções para resolver esta questão. Diante desses eixos que conduziram o debate, mobilizamos um conjunto de artigos publicados no período por portais em dois polos aparentemente distintos: do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que perspectiva a discussão a partir da produção alimentícia agroecológica, e da seção Agro do portal G1, que tematiza a fome e a produção de alimentos sob uma ótica mais alinhada à agroindústria. Objetivamos, por meio da análise, depreender: (1) as relações de poder estabelecidas nesses discursos e (2) os recursos linguístico-discursivos adotados para a construção e para a sustentação de cada polo. Para isto, pautando criticamente o debate sobre a fome e a produção de alimentos no referido período, mobilizamos um quadro de categorias de análise que partem do arranjo metodológico da Ecolinguística (STIBBE, 2015). Partimos das categorias metáfora, com acréscimo de um instrumental mais orientado ao discurso (GONÇALVES-SEGUNDO, 2020; VEREZA, 2007), avaliação, identidade, convicção e apagamento, apreendendo a construção semântico-discursiva desses posicionamentos e articulando-os com a teoria sociológica (MARX & ENGELS, 2016; MARX, 2013; LUKÁCS, 2016; entre outros). Posteriormente, como procedimento metodológico stibbeano, valoramos o possível impacto desses discursos na realidade com base em uma ecosofia construída com base no trabalho de Saito (2021). A partir da conexão entre elementos linguísticos e sociológicos, identificamos pontos de convergência e de divergência nos discursos em questão para cada um dos eixos. No caso do eixo (I) conceituação da fome, além da indisponibilidade absoluta de alimentos, a ausência de pratos preenchidos com itens que supram as demandas nutricionais dos organismos ganha importância. Notamos a centralidade da crítica aos chamados alimentos ultraprocessados sobretudo no portal do MST, por meio da mobilização de metáforas distribuídas e situadas e da constituição de identidades conflitantes para os hipernônimos \"indústria\" e \"agricultura familiar\". Embora as mazelas ambientais e de saúde pública causadas pelo avanço cada vez maior dessas simulações industriais (NUPENS-USP) apareçam como ponto relativamente pacífico entre os portais, no G1 esse debate responsabiliza menos o modo e as determinações de produção e mais os indivíduos consumidores. Já no eixo (II) explicações para a existência da fome, identificamos justificativas centradas em fatores como produção/distribuição de alimentos e gestão político-econômica, como ausência ou desmonte de políticas públicas, além da constituição de identidades frontalmente antagônicas no tratamento dos produtores rurais nos dois portais; soma-se a isso uma explícita responsabilização de atores públicos no portal do MST, mas apagamento destes no caso do G1. Por fim, no eixo (III) soluções para o problema da fome, a discussão foi permeada por apontamentos de teor produtivista ou tecnocrata, em que os portais se posicionam em polos absolutamente contrários através da mobilização de metáforas distribuídas e apagamento de condições de produção e da natureza, práticas mais individualizadas como mecanismos de solidariedade e identidades centradas em \"nós vs. eles\", além do debate territorial e de poder sobre a terra, permeado também por identidades e apagamentos |