A rebelião dos pequenos copistas: marcas de reescrita em textos produzidos por crianças

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: D'Alessandro, Sabrina Leonzi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48138/tde-15022021-203451/
Resumo: Esta pesquisa partiu de um interesse em conhecer o que se passa quando crianças matriculadas no terceiro ano do Ensino Fundamental I de uma escola pública,localizada na zona oeste da capital de São Paulo, atendem à solicitação de reproduzir, o mais fielmente possível, textos-fonte cuja leitura em voz alta, por parte de suas professoras, acabaram de seguir. A pesquisa assumiu os seguintes objetivos específicos: a) Minuciar as operações sistemáticas da escritura utilizadas pelos participantes para reescrever textos-fonte; b) Examinar a presença de autoria em textos que são fruto da reescrita de textos-fonte; e c) Analisar as especificidades dos textos gerados pela reescrita de diferentes textos-fonte. Para tanto, o trabalho explorou um corpus de 236 manuscritos produzidos por 59 crianças distribuídas em quatro turmas. O grupo de alunos, à época da coleta, era formado por vinte e oito meninas e trinta e um meninos, em sua maioria com idade de oito anos e pertencentes à classe média-baixa. Todos os textos foram escritos por ocasião das avaliações trimestrais aplicadas em sala de aula. O trabalho analítico de cotejamento entre os textos-fonte e as reescritas dos mesmos iniciou-se por um levantamento quantitativo que tomou como unidade a primeira sentença dos textos-fonte. Observamos as ocasiões em que os participantes não alteraram o texto-fonte, tendo conseguido reter na memória grandes porções da formulação original, e as ocasiões em que lançaram mão das operações sistemáticas de escritura (GRÉSILLON; LEBRAVE, 1983; GRÉSILLON, 2007): adição (inserção de palavras, sintagmas ou frases), deslocamento (transposição de uma parte do texto de um lugar para outro), substituição (troca de uma parte do texto por outra) e supressão (abandono de uma parte do texto). A análise resultou na presença das quatro operações sistemáticas da escritura. Houve prevalência de supressões e substituições, seguidas pelos acréscimos. A ocorrência de deslocamentos foi pequena, superando apenas o número de reproduções fiéis. A segunda análise elegeu o texto como objeto e teve caráter qualitativo. Nos textos examinados, buscamos localizara presença de um sujeito que não tivesse deixado se anular em benefício da função de aluno ao aceitar a proposta de exercício de reprodução dos textos-fonte. A presença dos seguintes elementos na obra original parece ter facilitado o advento de textos que não se limitaram a reproduzir os textos-fonte: 1) Afirmações de caráter ideológico que, ao provocar discordância por parte das crianças, deram origem a produções dissonantes; 2) Termos e referências incomuns ao universo das crianças participantes, que deram origem a substituições e supressões; 3) Partes aflitivas que tendem a ser suprimidas; e 4) Descrição das qualidades positivas ou negativas dos protagonistas, aos quais as crianças tendem a destinar castigos ou recompensas. O conjunto da pesquisa indica que, mesmo em tarefas de caráter predominantemente parafrástico, os participantes acabam gerando efeitos de sentido que, junto ao leitor, se configuram como autorais. Entre repetir exatamente o que leram e retomar de maneira diferenciada, as crianças tendem para o segundo movimento, dando vistas de que estão continuamente interpretando os textos dados a ler.