As experiências alimentares de mães com filhas portadoras de transtornos alimentares: investigando a transgeracionalidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Lauand, Christiane Baldin Adami
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22133/tde-26042010-102616/
Resumo: A alimentação é um objeto de estudo de extrema complexidade que envolve várias áreas do saber científico, entre elas a sociologia, a antropologia, a psicologia e a nutrição que se dedicam a investigar este instigante fenômeno. Até o momento, sabe-se que ela assume função social e afetiva entre os seres. O caráter simbólico dos alimentos se insere no contexto das relações sociais, sendo a família um importante instrumento de transmissão de rituais e de regras dietéticas. Do ponto de vista afetivo, a alimentação, primeiramente pela amamentação, é considerada o primeiro elo entre a mãe e o bebê e este processo acontece naturalmente quando existe uma relação harmoniosa entre a dupla. Considerando os estudos sobre as heranças psíquicas, em especial aquelas advindas de elementos transgeracionais, o objetivo desta pesquisa foi compreender o significado e as experiências emocionais da alimentação para as mães com filhas portadoras de transtornos alimentares. O percurso teórico baseou-se na pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. Participaram do estudo cinco mães de jovens com transtornos alimentares que frequentaram o grupo de apoio psicológico aos familiares do Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (GRATA-HCFMRP-USP) no ano de 2008. Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um roteiro semiestruturado, sendo as entrevistas audiogravadas e transcritas na íntegra. A partir da análise dos dados emergiram aspectos relacionados à alimentação e seu caráter socioculturais e emocionaisl com os seguintes temas: a alimentação materna, a alimentação e o afeto e a alimentação após o transtorno alimentar da filha. Observou-se que vivências destas mães com a própria alimentação influenciaram seus desejos, a manutenção de tradições alimentares ou a transformação dessas, assim como a construção dos vínculos com suas filhas. As recordações infantis trouxeram lembranças da família e da organização da rotina alimentar considerando como personagens fundamentais deste processo suas avós e suas mães, caracterizando a presença de, pelo menos, duas gerações responsáveis pela transmissão dos hábitos, costumes alimentares e sentimentos. Ficou evidente que as necessidades alimentares destas mães não se basearam somente no caráter nutritivo dos alimentos, mas também buscaram afeto, cuidado e atenção. Elas ensaiaram tentativas de modificar as tradições e os costumes herdados com a finalidade de vivenciar outra maneira de receber e oferecer o alimento. Contudo, observou-se que os significados que a alimentação assumiu para estas mães estavam pautados nas referências e valores transmitidos por suas próprias mães. Todas apresentaram alguma restrição alimentar, seja pela dificuldade financeira familiar ou pela resistência em ingerir determinados alimentos durante a infância. Diante desses resultados, pode-se pensar que as dificuldades das mães referentes à alimentação e aos vínculos construídos a partir da relação com suas próprias mães tenderam a se repetir com as filhas, sugerindo a existência de uma herança que as antecede e atravessou gerações. Sem a pretensão de encontrar ou apontar culpados ou vítimas que justifiquem a existência da herança transgeracional nos transtornos alimentares, outros ou novos estudos serão necessários para ampliar os conhecimentos sobre este fenômeno que muitas vezes impede o viver criativo.