Alterações morfológicas em tecidos linfoide e endócrino de anuros sujeitos à contaminação ambiental em áreas cultivadas no estado do Ceará

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Braga, Roberta da Rocha
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/10/10133/tde-20092022-103525/
Resumo: Os anfíbios são uma fascinante classe de Vertebrados que vivem uma “vida dupla”: por compartilharem fases do desenvolvimento em ambientes aquático e terrestre e pela sensibilidade fisiológica e imunológica a estressores externos, são considerados bioindicadores de equilíbrio ambiental. A ordem dos anuros é a mais numerosa, tendo sido bastante utilizada para biomonitoramento ambiental. No semiárido brasileiro, o Rio Jaguaribe é um manancial de grande importância, que vem sendo ameaçado pela má gestão de seus recursos e pelo risco de contaminação química associada aos polos de agricultura irrigada. O objetivo deste trabalho foi avaliar biomarcadores morfológicos e medir elementos químicos potencialmente tóxicos em amostras de tecidos de Leptodactylus macrosternum (Anura: Leptodactylidae), anuro nativo, abundante e amplamente distribuído, a fim de utilizá-lo como possível ferramenta de biomonitoramento de agrossistemas na microrregião do Baixo Rio Jaguaribe. Para isso, cento e vinte indivíduos foram coletados em áreas cultivadas e não cultivadas do município de Tabuleiro do Norte, Ceará, de maio a junho de 2017. Através da técnica de ICP-MS, elementos químicos potencialmente tóxicos foram quantificados em amostras secas das carcaças dos espécimes, enquanto alterações morfológicas foram investigadas por meio de necrópsias e avaliação histopatológica de seus órgãos endócrinos e linfoides. Os elementos potencialmente tóxicos As, Cd, Cr, Co, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn foram detectados nas amostras. Foi observada predominância de lesões degenerativas (41,0%), seguidas de proliferativas (23,2%), inflamatórias (17,2%) e circulatórias (14,4%). Bócio nodular coloide, infiltrado granulocítico, hiperplasia e degeneração vacuolar foram as principais alterações observadas em tireoides, paratireoides, ilhotas pancreáticas e glândulas interrenais, respectivamente. Hiperplasia epitelial e atrofia de bainhas linfocíticas periarteriolares foram as alterações predominantes em timo e baço, respectivamente. As frequências de citólise do parênquima com infiltrado granulocítico em paratireoides, da maioria das lesões de timo e de infiltrados granulocíticos em baço foram significativamente superiores em áreas cultivadas (p<0,05). Acúmulos de Cu, Mn e Zn se mostraram superiores às de uma espécie congênere também do nordeste do Brasil. A maioria dos indivíduos analisados foi classificada no grupo sob maior influência de Co, Zn, Fe e Pb, provavelmente provenientes de duas fontes distintas. Foi observada tendência ao maior acúmulo de As em áreas cultivadas e de Pb em áreas não cultivadas, embora não tenha sido comprovada diferença significativa das concentrações entre as duas áreas. A estatística multivariada mostrou influência significativa de compostos inorgânicos potencialmente tóxicos nas alterações histológicas observadas, principalmente na vacuolização das ilhotas pancreáticas e na hiperplasia do estroma esplênico. Os elementos quantificados responderam por 60,2% da variância dos dados analisados, o que ressalta a interação de outros fatores (fragmentação de habitat, aumento de temperatura e da radiação ultravioleta, redução da pluviosidade, presença de compostos químicos orgânicos, estressores de presença humana, dentre outras possibilidades) nas alterações observadas. Os resultados sugeriram que a espécie L. macrosternum é potencial bioindicadora regional de elementos potencialmente tóxicos. Contudo, biomarcadores morfológicos podem não ser sensíveis o suficiente em todos os tipos de tecidos para medir o efeito de elementos químicos inorgânicos potencialmente tóxicos na região avaliada.