Contribuições linguísticas cabo-verdiana e sefardita na formação do papiamentu

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Freitas, Shirley
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-13102016-145726/
Resumo: Este estudo propõe uma hipótese que considera fundamental a atuação linguística conjunta dos cabo-verdianos e dos judeus sefarditas e seus escravos na gênese e no desenvolvimento do papiamentu. A justificativa para a pesquisa reside no fato de que, a despeito de ser um tema discutido na literatura, ainda se trata de um assunto controverso entre os estudiosos, havendo até o momento, pelo menos, quatro hipóteses diferentes. Maduro (1965), Rona (1970) e Munteanu (1996), por exemplo, defendem que o papiamentu seria um crioulo de base espanhola, tendo seus elementos portugueses introduzidos posteriormente pelos judeus sefarditas e seus escravos. Já Lenz (1928) e Martinus (1996) consideram o papiamentu como resultado da relexificação de um crioulo ou protocrioulo afroportuguês falado por escravos trazidos da África. De acordo com Goodman (1996 [1987]) e Smith (1999), por seu turno, o papiamentu seria um crioulo de base portuguesa, surgido a partir de um dialeto judeo-português da comunidade sefardita e seus escravos. Por fim, Jacobs (2012) considera que o papiamentu teria se originado a partir do crioulo falado na ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, sendo mais tarde levado para Curaçao. Analisando as hipóteses, observou-se que duas apresentam argumentos e fatos linguísticos evidenciáveis, a saber, as relações com o kabuverdianu (especialmente, a variedade de Santiago) e a participação dos judeus sefarditas e seus escravos. A fim de decidir a favor de uma das hipóteses, itens lexicais e funcionais das variedades setecentistas e oitocentistas do papiamentu e do kabuverdianu clássicos, bem como do papiamentu sefardita, foram comparados, resultando em convergências nos níveis lexicais e funcionais. De um lado, a grande quantidade de elementos derivados do português no papiamentu clássico seria uma evidência de que esses itens representaram um papel basilar no desenvolvimento da língua, de outro, as convergências lexicais e funcionais uma vez que há uma menor probabilidade de substituição dos itens funcionais (em virtude de sua opacidade semântica) (MATRAS, 2009) não podem ser explicadas por acaso. Já as similaridades com o kabuverdianu clássico confirmariam seu parentesco linguístico. No que diz respeito ao papel da comunidade sefardita e seus escravos, observou-se que a expressão linguística dos judeus também faz parte da estrutura geral do papiamentu clássico, deixando marcas inclusive na variedade moderna. Tendo em vista o material documental dos séculos xviii e xix, escolher uma única hipótese resultaria em um quadro parcial, sendo necessário postular uma convergência de hipóteses, que consiste não somente na reunião de duas hipóteses (a cabo-verdiana e a sefardita), mas na proposta de um novo cenário para se explicar a gênese e o desenvolvimento do papiamentu. Dentro dessa perspectiva, é importante considerar que, em situações de contato, as línguas continuam se influenciando mutuamente ao longo dos tempos (PERINI-SANTOS, 2015), sendo necessária, portanto, uma análise que privilegie a contribuição dos falantes de diferentes línguas em diversas sincronias. Assim, seguindo Faraclas et al. (2014), uma convergência de elementos linguísticos cabo-verdianos e dos sefarditas e seus escravos deve ser considerada nos estudos sobre a formação e desenvolvimento do papiamentu.