Da edição à sedição: a composição e a dispersão de impressos radicais na Inglaterra, 1650-1680

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Lima, Verônica Calsoni
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-22082023-121852/
Resumo: A presente tese de doutorado tem como objetivo identificar e analisar os processos de produção e disseminação de livros e panfletos radicais na Inglaterra entre as décadas de 1650 e 1680, visando compreender como perspectivas sediciosas e oposicionistas circulavam num momento de constantes alterações no governo e nos sistemas de controle da imprensa. Para examinar a questão, concentramo-nos no caso dos Estacionários Confederados (Confederate Stationers), um conjunto de agentes do mercado livreiro, cujas atividades editoriais ilícitas foram amplamente fiscalizadas e punidas no início dos anos 1660. A alcunha da confederação foi atribuída pelo censor Sir Roger L\'Estrange durante sua campanha pelo fortalecimento dos instrumentos de censura logo após a Restauração da monarquia, sob o reinado de Carlos II. Em um período de instabilidade política e social, que sucedeu o conflituoso contexto da Revolução Inglesa (1640-1660), L\'Estrange elegeu, sobretudo, os livreiros Giles e Elizabeth Calvert, Thomas e Anna Brewster, Livewell e Hannah Chapman, Richard e Susannah Moone, e Francis e Eleanor Smith; os impressores Simon e Joan Dover, Thomas Creake, John Twyn e John Darby; e os encadernadores Nathan Brooks e George Thresher como inimigos da ordem e do governo devido às suas publicações anônimas e controversas. Os Confederados foram responsáveis pela emissão de dezenas de panfletos sediciosos e, muitas vezes, clandestinos, para contestar a autoridade dos regimes monárquicos e da Igreja Anglicana. A fim de melhor compreender a polêmica dos Estacionários Confederados, buscamos analisar as trajetórias dos sujeitos investigados pelas autoridades, tentando identificar suas conexões comerciais e sociais, bem como seus posicionamentos políticos e religiosos. Além disso, debruçamo-nos sobre suas publicações a partir das perspectivas da História do Livro e da Cultura Escrita. Por meio do exame da textualidade e da materialidade de seus livros e panfletos, pudemos evidenciar algumas das estratégias e práticas editoriais mobilizadas por autores, impressores, livreiros e encadernadores na tentativa de assegurar a produção e a dispersão dos textos controversos e minimizar os riscos envolvidos na atuação no mercado clandestino de impressos. Publicando anonimamente, utilizando imprints falsos e fragmentando o processo de confecção de seus textos, os Confederados conseguiram evitar os constrangimentos da censura em diversas ocasiões, fazendo com que suas obras de cariz profético-político circulassem amplamente. O caso dos Estacionários Confederados nos permite repensar a questão do radicalismo na Inglaterra da Época Moderna. A tensa relação que o grupo estabeleceu com as autoridades indica a permanência dos discursos e das práticas de oposição. Com forte teor antimonarquista, não-conformista e milenarista, seus panfletos buscavam mobilizar as opiniões públicas e interferir diretamente nas esferas políticas, sociais e religiosas. A análise da textualidade e a materialidade dos impressos lançados pelos Confederados entre os períodos da república, do protetorado e da monarquia aponta diferentes formas de resistência e antagonismo. Continuamente adaptando suas estratégias de edição, publicação e disseminação do material sedicioso, os Confederados conseguiram difundir seus posicionamentos em ataques às estruturas políticas e religiosas. Embora tenham sido derrotados pelo governo de Carlos II, suas atividades nos possibilitam acessar outras perspectivas sobre o turbulento contexto da Inglaterra de meados do século XVII.