Sociabilidade, brincadeira e compreensão social: um estudo psicoetológico em crianças pré-escolares

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Lucena, Juliana Maria Ferreira de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47132/tde-01112018-113419/
Resumo: A sociabilidade humana tem merecido atenção especial para o entendimento da filogênese e ontogênese da espécie. Nos humanos, a característica de interagir com o parceiro, envolve uma capacidade peculiar de reconhecer estados mentais e emocionais de si mesmo e do outro, aqui referida como compreensão social. A literatura da área de desenvolvimento infantil indica uma provável relação entre a compreensão social de crianças e as interações que elas estabelecem em contextos lúdicos com seus pares de idade. As pesquisas, no entanto, dificilmente investigam os comportamentos que caracterizam essas interações em situação de brincadeira livre entre crianças pré-escolares. A partir da psicoetologia, a brincadeira entre pares é considerada um espaço ecologicamente relevante para o desenvolvimento da criança e atividade privilegiada para a observação de seu comportamento social. No presente estudo visamos caracterizar o comportamento de crianças pré-escolares em relação à capacidade de compreensão social quando observadas em situação lúdica triádica e avaliadas em testes individuais de teoria da mente e compreensão das emoções. Investigamos uma amostra de 31 crianças (50% meninas). Elas frequentavam o mesmo Centro Municipal de Educação Infantil, que lhes ofertava um atendimento diário, organizando-as em três agrupamentos etários (3, 4 e 5 anos). Os trios observados e videoregistrados em um ambiente lúdico, foram compostos por crianças do mesmo agrupamento, usando-se o critério de parcerias preferenciais ou neutras. Identificamos na situação de observação comportamentos de acesso/recepção (aproximação sem conflito, ação coordenada por cooperação, exibição, aproximação com conflito; intermediação, ação coordenada por imitação, pedido, convite e oferta) usados pelas crianças para se ajustarem aos parceiros de interação. Em decorrência de uma análise fatorial exploratória, esses comportamentos foram nomeados de: interações amistosas, interações agonísticas e propostas. Em seu conjunto, os resultados sugerem que as crianças apresentam, nas interações lúdicas com os seus pares de idade, uma compreensão do outro que as possibilita realizar ações ajustadas ao contexto interacional. As crianças de 5 anos apresentaram mais interações amistosas para acessar a situação já estabelecida ou receber uma nova criança, quando comparadas às de 4 e 3 anos; além disso, elas apresentaram um desempenho melhor no teste de teoria da mente e no teste de compreensão de emoções quando comparadas às mais novas, resultados que sugerem transformações ontogenéticas relevantes nessa idade. As análises realizadas permitem indicar um caminho ontogenético de desdobramentos e ampliação da compreensão social de crianças nas interações estas são tomadas como produto e instrumento da compreensão social o que reflete uma psicologia que evoluiu junto com a complexidade da vida em grupo. Os resultados também contribuem para a discussão sobre em que medida ter e usar a capacidade de compreender o outro são competências relacionadas. Indicamos que os comportamentos categorizados neste estudo ajudam a identificar tendências comportamentais que fazem parte do repertório da criança na interação lúdica com pares e que podem passar despercebidos em testes individuais ou situações experimentais de resolução de problemas. Compreensão social e desenvolvimento social podem constituir uma via de mão dupla com consequências para a exibição de comportamentos ajustados às demandas sociais