Crianças com déficit intelectual e processos interacionais com pares na pré-escola: reflexões sobre desenvolvimento

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Ferreira, Juliene Madureira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59137/tde-07062017-114157/
Resumo: A presente tese de doutorado tangencia a temática da Inclusão Escolar a partir da análise dos processos de interação de pares em contexto de Educação Infantil. Dentro desse complexo e amplo fenômeno, o foco do processo investigativo recaiu sobre as possibilidades de desenvolvimento da criança com déficit intelectual, discutindo, a partir da perspectiva Histórico-Cultural, o conceito teórico da Zona de Desenvolvimento Proximal de Lev S. Vygotsky. A partir desse recorte, buscou-se apreender os processos interativos de crianças com e sem déficit intelectual no contexto institucional escolar, analisar como as relações estabelecidas entre pares são construídas e, nessa construção, como possibilitam a transformação das habilidades potenciais em habilidades reais, em diferentes atividades. O objetivo específico foi identificar se existiam indícios empíricos que sustentariam a discussão conceitual de que o impacto das regulações e corregulações de comportamento por pares de idade também poderia ser considerado elemento que cria Zonas de Desenvolvimento Proximal às crianças com déficit intelectual. Para tanto, optou-se por desenvolver um processo investigativo de base epistemológica qualitativa, a partir das contribuições teóricas provenientes da Rede de Significações, por meio de três diferentes recursos de coleta de dados: o vídeo registro, as entrevistas semiestruturadas e o diário de campo. Os participantes da pesquisa foram três crianças pivôs diagnosticadas como tendo déficit intelectual, de idade entre três anos e meio e cinco anos, de duas Instituições de Educação Infantil. Para além, foram considerados participantes os familiares das três crianças, seus respectivos professores e as demais crianças que compartilhavam o contexto institucional. A análise dos dados foi realizada em três etapas distintas. Na primeira etapa, às entrevistas foi aplicada uma metodologia de análise de conteúdo, permitindo que informações do histórico familiar, a partir dos relatos das mães e sobre as concepções pedagógicas dos professores, fossem explicitadas e trabalhadas. Para além, analisaram-se os vídeos registros, considerando como elemento central os contatos físicos entre as crianças. Na segunda etapa, uma nova análise foi realizada junto ao material de vídeo, neste momento priorizando a análise microgenética dos episódios de regulações de comportamento no campo interativo. Na terceira e última etapa, a microgenética foi utilizada novamente, longitudinalmente, agora privilegiando os episódios interativos em que foram identificadas corregulações de comportamento. As três etapas de análise resultaram nos seguintes elementos: (1) a configuração do espaço\\atividade pode interferir na quantidade de contatos físicos nas interações de pares, sendo o ritmo das atividades e a presença (ou ausência) direta do adulto um fator que influencia nas iniciativas da interação; (2) o contato físico se configurou por meio de diferentes comportamentos\\gestos e em meio a diversas situações, representando as distintas, ambíguas e complementares formas de estabelecer contato com o outro; (3) há reciprocidade na busca por interação; (4) a atenção conjunta e o compartilhamento de objetos representam elementos fundamentais, permitindo a possibilidade da reciprocidade na troca de informações (corregulação); (5) foram identificadas, em todos os três casos, transformações na forma como as interações são constituídas ao longo do tempo, apresentando um gradativo aumento na sua complexidade; (6) as aprendizagens construídas nas corregulações de comportamento foram diversificadas, ora tangenciando aspectos sociais do processo de escolarização, ora se referindo a uma atividade específica; (7) a imitação aparece como elemento central e estruturador dos processos regulatórios; e, (8) o interesse\\envolvimento dos pares no fazer conjunto com a criança pivô e o percurso histórico dessas interações no cotidiano escolar desempenharam um papel importante na criação das Zonas de Desenvolvimento Proximais e de desenvolvimento dos participantes pivôs. A partir dos resultados, defende-se que na interação de pares são criadas Zonas de Desenvolvimento Proximal, o que permite a reflexão sobre o papel do par no processo de aprendizagem, desenvolvimento e inclusão da criança com déficit intelectual em contextos escolares de Educação Infantil