Fatores de resistência à mudança: atitude, envolvimento, argumentação

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1972
Autor(a) principal: Bergamin, Maria Dulce Bandiera
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20231122-093133/
Resumo: Com o objetivo de verificar as consequências cognitivas da inversão de papéis como manipulação de mudança de atitude, e os seus efeitos sobre o envolvimento experimentalmente provocado através da ligação da atitude a valores centrais, a presente investigação consistiu na realização d e três experimentos independentes mas baseados na utilização de um Único folheto experimental. A combinação da inversão de papéis com a manipulação da centralidade, aliada à avaliação de argumentos bilaterais sobre o objeto de atitude, produziu resultados nem sempre claros, em virtude não só da complexidade do plano experimental empregado que se revelou pela interação de todas as variáveis, sugerindo a necessidade de estudos mais detalhados e específicos, como também da interferência de variáveis não controladas e mesmo imprevisíveis, nas condições atuais do conhecimento científico. Entretanto, apesar da dificuldade que esses fatores colocam à interpretação dos dados obtidos, dois fatos puderam ser claramente estabelecidos: 1) A direção da atitude inicial dos sujeitos fator de grande importância como determinante dos efeitos das manipulações experimentais do tipo aqui empregado. 2) A avaliação de argumentos bilaterais pe1os sujeitos, antes da inversão de papéis, dificulta ou impede a ocorrência de mudança de atitude, mas provoca alterações nas regiões de aceitação e rejeição e nas auto-descrições. A primeira observação permite concluir, generalizando a verificação de Rodrigues (1972), que o princípio do equilíbrio encontra dificuldades não só quando existe uma relação p/o negativa, mas também quando é negativa a atitude inicial do sujeito com relação a qualquer objeto. A segunda observação leva à conclusão de que a argumentação, como processo de análise e avaliação de proposições favoráveis e contrárias a um objeto de atitude, é fator que contribui para a resistência à mudança. Este fato sugere que, quando se oferece ao indivíduo a oportunidade de discutir uma idéia ou de avaliar os “prós” e os “contras” em uma situação, o resultado será, provavelmente, uma posição assumida com convicção, e resistente diante de tentativas de influência social. São importantes as implicações educacionais dessa verificação. Frequentemente se afirma que a sociedade democrática requer independência de pensamento e ação, pois para ser livre o cidadão deve agir, primordialmente, e m função de suas próprias idéias e convicções. Os dados atuais sugerem que, seja por favorecer a contra-argumentação ou por processo semelhante à inoculação biológica, ou ainda por facilitar a reatância psicológica, a avaliação de argumentos bilaterais fortalece a atitude, tornando-a mais resistente à mudança. O diálogo, como forma de argumentação e análise de pontos de vista opostos, surge assim como um procedimento vantajoso para a formação da personalidade. Esta conclusão, a ser confirmada por pesquisas futuras, poderá representar uma contribuição à orientação das famílias na educação de crianças e jovens, visando o desenvolvimento da personalidade forte e independente. Por outro lado, os dados atuais revelaram que, embora a intensidade da atitude não sofra mudanças significativas quando uma situação causadora de dissonância é enfrentada após a avaliação de argumentos bilaterais, ocorrem alterações cognitivas que afetam as suas regiões de aceitação e rejeição, a posição que ela ocupa no sistema cognitivo e outros aspectos, neste estudo revelados pelas auto-descrições. Para finalizar, far-se-á aqui a revisão dos problemas de pesquisa sugeridos pela presente investigação: 1) Os dados atuais sugerem que, enquanto medido pelas auto-descrições, o envolvimento provocado pela manipulação da centralidade difere daquele que resulta do desempenho efetivo de uma atividade. Torna-se pois necessário verificar a natureza dessa diferença, a través de estudos que permitam a comparação dos seus efeitos. 2) Será interessante também verificar se as alterações sofridas pelas regiões de aceitação e rejeição e pelas auto-descrições ocorrem invariavelmente como resultado de manipulações de mudança de atitude, ou se acompanham apenas a inversão de papéis. 3) Foi visto que a importância da atitude para o sujeito, mencionada por Festinger como fator que determina a magnitude da dissonância, é um termo complexo, que requer uma operacionalização adequada. Sugere-se, portanto que se promovam investigações com esse objetivo, que uma vez alcançado representará grande contribuição ao aprimoramento da teoria da dissonância cognitiva. Será também necessário estabelecer as relações desse conceito com medidas do tipo aqui mencionado como auto-descrições. 4) Estudos interculturais revelaram-se necessários, para verificar as possíveis limitações que fatores culturais podem apresentar para a generalidade dos modelos teóricos que fundamentaram o presente trabalho. 5) Sugeriu-se ainda a realização de estudos mais detalhados e específicos que utilizam as variáveis independentes aqui empregadas sem sofrerem as limitações que a complexidade do atual plano experimental impõe. 6) Finalmente, novas investigações são necessárias para determinar o papel que o diálogo, como forma de argumentação e analise de pontos de vista opostos, exerce no processo de formação da personalidade. Embora sugerida por um trabalho tão limitado quanto o presente, uma investigação desse tipo supõe uma abordagem interdisciplinar, devendo contar com a colaboração de especialistas em psicologia social, da personalidade, da criança, e em sociologia