Anatomia endocraniana de Rhynchocephalia (Diapsida, Lepidosauria): variação ontogenética e relações alométricas em Clevosaurus brasiliensis (Triássico Superior, Brasil) e Sphenodon punctatus

• Ano de defesa: 2022
• Autor(a) principal: Miron, Lívia Roese
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
• Palavras-chave em Português: Brain to endocast relationship; Cavidades endocranianas; Endocasts; Ontogenia; Ontogeny; Paleoneuroanatomia; Paleoneuroanatomy; Relação cérebro-cavidade cerebral; Rhynchocephalia
• Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59139/tde-26052022-085243/

As cavidades endocranianas de espécies viventes e fósseis, tais quais a cerebral, labirinto endósseo e nasais, podem informar não apenas sobre ecologia e capacidades sensoriais dos vertebrados, mas também sobre a história evolutiva de sua neuroanatomia. Porém, a correspondência entre o cérebro e sua cavidade varia taxonomicamente, e, consequentemente, seu potencial informativo. Atualmente representado apenas por Sphenodon punctatus (a \"tuatara\"), endêmico da Nova Zelândia, Rhynchocephalia era o clado mais diversificado de Lepidosauria na primeira metade do Mesozoico. No Triássico Superior da Rio Grande do Sul (Brasil), Clevosaurus brasiliensis é um rincocefálio particularmente abundante (Sequência Candelária, Formação Caturrita, Zona Assembleia de Riograndia, Noriano). Apesar da anatomia do cérebro de S. punctatus ser relativamente conhecida, não há até o momento descrição da morfologia de suas cavidades endocranianas, nem das de rincocefálios fósseis. Assim, este estudo buscou: (i) descrever a anatomia e variação ontogenética das cavidades endocranianas de S. punctatus; (ii) descrever a cavidade cerebral de C. brasiliensis e compará-la à espécie vivente; e (iii) investigar a correspondência entre cavidade cerebral e cérebro em S. punctatus. Foram analisados um espécime de C. brasiliensis e sete espécimes de S. punctatus entre recém-eclodidos a adultos. Os moldes endocranianos foram gerados através de segmentação digital a partir de suas Tomografias Computadorizadas. Regressões lineares de suas medidas foram utilizadas para investigar seu crescimento alométrico. Também, o Coeficiente de Encefalização Reptiliano (REQ) foi calculado para S. punctatus. A cavidade cerebral de Rhynchocephalia apresenta uma organização linearizada, compreendendo: trato olfatório estreito e bulbo expandido; prosencéfalo e mesencéfalo expandidos lateral e ventralmente; e medulla oblongata de faces laterais praticamente paralelas. O volume e morfologia geral da cavidade cerebral de S. punctatus refletem fracamente seu cérebro (apenas 30% da cavidade são ocupados pelo cérebro), mas as medidas de comprimento total, do trato olfatório, do rombencéfalo e mesencéfalo são muito semelhantes entre os modelos. Assim, ao estudar a correspondência entre cérebro e cavidade endocraniana na espécie, diferenças regionais devem ser consideradas. O REQ de S. punctatus variou de 0.759 em um juvenil para 1.29 em um adulto maior quando a massa do cérebro foi considerada 30% do volume da cavidade cerebral. Porém, é provável que o cérebro preencha mais de 30% da cavidade cerebral em juvenis; logo, a massa cerebral estimada para este espécime e seu REQ foram provavelmente subestimados. Durante a ontogenia, a cavidade cerebral de S. punctatus torna-se mais alongada, estreita e menos dorsoventralmente curvada. A região dos hemisférios cerebrais se expande lateralmente, e a superfície ventral do rombencéfalo passa de côncava nos juvenis para convexa nos adultos. A cavidade cerebral de C. brasiliensis apresenta características adultas e juvenis de S. punctatus, sendo curta como nestes e estreita como naqueles, mas sua angulação dorsoventral é mais retilínea e volume total é proporcionalmente menor. Clevosaurus brasiliensis é um rincocefálio de porte muito pequeno, e apresenta características cranianas consideradas típicas de juvenis em S. punctatus. Assim, a similaridade da cavidade cerebral de C. brasiliensis com um juvenil de S. punctatus pode ser não apenas uma consequência da alometria, mas também uma manifestação da morfologia peramórfica da espécie vivente.