Avaliação dos efeitos do canabidiol sobre as consequências comportamentais induzidas pelo tratamento com o ácido valproico durante o período embrionário do zebrafish

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Costa, Karla Cristinne Mancini
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17133/tde-05062023-141905/
Resumo: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neuropsiquiátrica multifatorial que se caracteriza pelo comprometimento dos domínios da comunicação social e comportamental. Além dos fatores genéticos, estudos reforçam a relação de componentes ambientais, como a exposição ao ácido valproico (AVP) gestacional, à etiologia do TEA. A heterogeneidade sintomática inerente ao TEA torna o desenvolvimento de novas farmacoterapias um grande desafio. Até então, risperidona (RISP) e aripiprazol são os únicos medicamentos aprovados, mas com risco potencial para efeitos adversos. A busca por novas abordagens eficazes e seguras tem estimulado o reposicionamento e desenvolvimento de novos fármacos. Nesse contexto, o canabidiol (CBD), um fitocanabinoide capaz de modular os mais diversos sistemas fisiológicos e que vem demonstrando ampla gama de atividades terapêuticas, desperta a atenção. Ademais, o desenvolvimento de modelos TEA rápidos e confiáveis como ferramenta para triagens farmacológicas torna-se essencial. Neste cenário, o zebrafish surge como alternativa valiosa, uma vez que, apresentam vantagens logísticas e econômicas sobre os demais modelos animais, compartilhando, ainda, considerável semelhança genética com mamíferos. Assim, o presente estudo teve por objetivo avaliar o perfil farmacoterapêutico do CBD em um modelo TEA zebrafish obtido por meio de exposição embrionária ao AVP. Para isso, embriões de zebrafish foram expostos a diferentes concentrações de AVP até 48 horas pós-fertilização (hpf) e tratados com RISP (controle positivo) ou CBD de 48 a 96 hpf. Com 24 hpf, embriões expostos a 125µM de AVP apresentaram aumento nos movimentos espontâneos, enquanto embriões expostos a 1.250µM de AVP apresentaram redução nesse parâmetro. Aos 5 dias pós-fertilização (dpf), animais expostos a 625µM e 1.250µM de AVP durante período embrionário obtiveram maior taxa de mortalidade e malformações. Análises comportamentais das larvas com 7dpf retornaram resultados de hiperlocomoção e aumento da agressividade/impulsividade em animais expostos a 125µM de AVP. Ainda, ensaios por imunofluorescência revelaram que o AVP promoveu alterações nos níveis de marcadores de proliferação celular (PCNA), astrócitos (GFAP) e calmodulina (CaM). Comparado a RISP, o tratamento com 0,06µM de CBD mostrou-se mais eficaz, tendo em vista que, reverteu as alterações comportamentais e os padrões de imunomarcação induzidos pelo AVP. Além disso, o CBD, mas não a RISP, exibiu ação antioxidante sobre a lipoperoxidação. Tratamento prolongado com RISP, mas não com CBD, prejudicou o desenvolvimento da bexiga natatória de animais, independentemente da exposição ao AVP. Em conclusão, nosso modelo TEA no zebrafish por exposição ao AVP mostrou mudanças comportamentais robustas compatíveis com o amplo espectro fenotípico do autismo, sendo o tratamento com RISP capaz de reduzir apenas o comportamento agressivo, enquanto o CBD promoveu melhorias nos perfis de locomoção, agressividade e impulsividade. A partir de nossos dados, é possível sugerir que tais efeitos possam estar vinculados a ação do CBD sobre vias antioxidantes e/ou mecanismos atrelados à modulação da proliferação celular, da atividade astrocitária e da regulação da excitabilidade neuronal. Nossas evidências pré-clínicas abrem margem para uma melhor compreensão acerca dos mecanismos potencialmente envolvidos na terapia com CBD na clínica do TEA.