Efeito da melatonina na função cognitiva pós-operatória de idosos submetidos à ressecção transuretral de próstata sob raquianestesia: estudo clínico randomizado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Tavares, Cristiane
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5176/tde-02052022-113820/
Resumo: Introdução: Desordens neurocognitivas pós-operatórias (POCD) ocorrem principalmente em pacientes idosos submetidos a procedimentos cirúrgicos sob anestesia geral ou regional. Distúrbios do ritmo circadiano decorrentes da hospitalização podem contribuir para alterações neurocognitivas perioperatórias, e o uso de melatonina exógena pode minimizar essas alterações. Objetivo: Objetivou-se avaliar um possível efeito da melatonina na prevenção de POCD em pacientes submetidos à raquianestesia para cirurgia de ressecção transuretral de próstata, que é uma das cirurgias eletivas mais comuns nessa faixa etária. Métodos: Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa Institucional, realizou-se um ensaio clínico duplo-cego randomizado placebo-controlado em 118 pacientes acima de 60 anos, submetidos à ressecção transuretral de próstata sob raquianestesia. Administrou-se 10 mg de melatonina ou placebo por via oral, na véspera da cirurgia e no primeiro, segundo e terceiro dias de pós-operatório. Os pacientes foram submetidos à bateria de testes neuropsicológicos no dia anterior e no 21º e 180º dias após a cirurgia. Utilizou-se o teste qui-quadrado para análise de prevalência de atraso na recuperação neurocognitiva e de POCD entre os dois grupos. A performance cognitiva dos pacientes em cada teste e domínio cognitivo foram comparados entre os grupos ao longo do tempo por meio do general mixed model. Foram considerados significativos valores de p<0,05. Resultados: Déficit cognitivo moderado ou grave foi observado em 55% dos pacientes antes da cirurgia, sem diferença entre os grupos. A prevalência de atraso da recuperação neurocognitiva 21 dias após a cirurgia foi de 15,5% [IC95% (7,35;27,42), p=0,06] no grupo que recebeu melatonina e de 5% [IC95% (1,04; 13,92), p=0,06] no grupo que recebeu placebo. Essa diferença não foi considerada estatisticamente significante, aplicando-se o teste de qui-quadrado com correção de continuidade (p=0,113). Esses dados foram obtidos a partir da análise interina, prevista na elaboração do projeto. Diante desses resultados, foi realizada uma análise de futilidade baseada no cálculo do poder condicional, obtendo-se um índice de futilidade de 99,99% em continuar a coleta de dados até atingir o n amostral calculado inicialmente, que era de 426 pacientes. N. Como achado exploratório, o grupo que recebeu melatonina teve melhor performance no teste de evocação tardia do Fuld Object Memory Evaluation (FOME), que avalia memória, e no teste de Dígitos, que avalia Atenção e Flexibilidade Cognitiva. Adicionalmente, após 180 dias da cirurgia, além de não ter sido detectado nenhum caso de POCD, observou-se melhora neurocognitiva global e nos domínios de Memória, Atenção e Linguagem. Após 21 dias da cirurgia também houve melhora nos domínios de Atenção e Funções Executivas. Ambas as melhoras foram mais pronunciadas nos pacientes com maior escolaridade e melhor desempenho no miniexame do estado mental (Mini Mental State Examination). Discussão: Observou-se um efeito benéfico seletivo da melatonina sobre a performance neurocognitiva pós-operatória, sem interferência na prevalência global de atraso na recuperação neurocognitiva. A alta prevalência de transtorno cognitivo pré-operatório pode estar relacionada aos sintomas obstrutivos do trato geniturinário inferior que motivaram a cirurgia. A melhora cognitiva detectada no pós-operatório ocorreu independentemente do uso de melatonina e foi acompanhada de melhora da qualidade de vida e de sono e diminuição dos índices de ansiedade e depressão. Conclusões: Neste estudo, os pacientes apresentaram alta prevalência de alteração cognitiva préoperatória, com melhora no pós-operatório. Aqueles que receberam melatonina apresentaram melhor desempenho nos testes relacionados à Memória, Atenção e Flexibilidade Cognitiva, em comparação com os que receberam placebo