Prestígio e heterodoxia: paranormalidade e outros mistérios na obra de MarioSchenberg dos anos 1980

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Coelho, Alexander Brilhante
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/81/81131/tde-19022024-153615/
Resumo: Mario Schenberg (1916-1990) foi um dos mais importantes físicos do Brasil, e uma importante personalidade da vida cultural nacional no século XX. Nos anos 1980, com o Brasil saindo de uma ditadura militar, a popularidade de Schenberg - antigo militante comunista e crítico de primeira hora do regime que se instalou após o golpe de 1964 - estava no auge. Schenberg, que havia sido perseguido pelo regime militar e aposentado compulsoriamente da Universidade de São Paulo, agora voltava ao debate público com uma imagem que oscilava entre o gênio e o sábio, passando a ser uma figura com bastante peso simbólico durante o processo de redemocratização brasileiro. Neste contexto, Schenberg se transforma em um autor, publicando alguns livros, como o Pensando a Física, em que suas ideias sobre a ciência se entrelaçam com ideias sobre filosofias orientais, paranormalidade e outros mistérios: ideias heterodoxas, que costumam ser banidas do que pode ser considerado um discurso legítimo sobre a ciência. Nosso problema de investigação foi compreender como ideias tão extravagantes puderam se encarnar em uma figura tão central para a Física brasileira, já que, em geral, são os outsiders os porta-vozes da heterodoxia. Nesta tese, procuramos, em um primeiro momento, explicitar e caracterizar os momentos heterodoxos dos discursos que Schenberg fazia veicular em suas obras dos anos 1980, discurso que foi por nós batizado, do ponto de vista epistemológico, como realismo mágico. Uma vez explicitado e caracterizado esse discurso, procuramos identificar de onde Schenberg retirava a matéria-prima epistemológica de seus discursos, e, segundo nossa investigação, essa postura epistemológica estava profundamente afetada pela ideia - igualmente pouco ortodoxa - de sincronicidade desenvolvida conjuntamente pelo físico Wolfgang Pauli e pelo psicólogo Carl Jung, que mantiveram por décadas uma interlocução movida pela busca de paralelos entre o mundo físico e a psique. A circulação e consumo dessas ideias heterodoxas presentes nos livros de Schenberg se viabilizam pela reputação que Schenberg foi construindo no campo científico e intelectual desde os anos 1930, quando começa sua carreira científica. Assim, para compreender como seu prestígio, que funcionava como chancela para suas ideias extravagantes, foi se sedimentando, acompanhamos como sua imagem pública foi se 10 construindo em jornais e revistas entre as décadas de 1930 e 1980. À medida que fomos reconstruindo a trajetória intelectual de Schenberg, fomos vendo Schenberg em cenários inusitados, como os terreiros de macumba, na sede do Partido do Kaos de Jorge Mautner, etc. e, ao tentarmos montar o quebra-cabeça dos diversos agentes com os quais Schenberg interagia, fomos percebendo que, para além da influência das ideias de Pauli e Jung, a imaginação científica de Schenberg se alimentava de ideias que circulavam no cenário contracultural emergente nos anos 1960, e, assim, procuramos descrever as afinidades eletivas entre a onda New Age, algumas novas questões da Física que apareceram na esteira do Teorema de Bell, e a cultura mediúnica brasileira, afinidades que, ao serem explicitadas, tornaram mais compreensível a inclinação à heterodoxia presente nas ideias de Schenberg.