Professoras sob fogo cruzado: bordando cuidados e resistências em meio à violência armada na Colômbia e no Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Ramírez, Alanis Bello
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48137/tde-24012024-152757/
Resumo: Esta tese teve como objetivo compreender, sob uma perspectiva de gênero e raça, o trabalho de cuidado e as posições políticas e pedagógicas de professoras que atuam em escolas feridas pela violência armada nas cidades de Buenaventura, Colômbia, e Rio de Janeiro, Brasil. Por meio de uma abordagem feminista do cuidado, esta pesquisa buscou compreender as experiências de fazer docência em dois contextos latino-americanos e identificar como as professoras respondem aos desafios de ensinar em escolas afligidas por diferentes processos de militarização, racismo e necropolítica. Para isso, foi realizada uma etnografia multissituada entre 2019 e 2022 com dois grupos de professoras, em sua maioria mulheres negras, que trabalham em escolas públicas em favelas da zona norte do Rio de Janeiro e nas comunas de Buenaventura. A metodologia envolveu entrevistas em profundidade, oficinas e visitas às escolas atingidas pela violência armada. Para a colheita das narrativas de cuidado, realizei um exercício de bordado etnográfico no qual as práticas têxteis me permitiram representar, com linhas e agulhas, o papel que essas professoras desempenham na proteção das comunidades escolares em meio ao fogo cruzado. O material empírico foi analisado no esforço de compreender as trajetórias biográficas das professoras, suas condições de trabalho, suas práticas pedagógicas e as relações que estabelecem com alunos, famílias e atores armados. Essa análise nos permite entender que, diante de situações de conflito e racismo estrutural, as professoras com uma consciência crítica das opressões respondem por meio de éticas do cuidado que informam suas pedagogias. O cuidado demonstrado por essas professoras envolve posições antirracistas e ações concretas que contribuem para proteger a vida dos alunos, curar as sequelas da violência, dignificar as comunidades e resistir à morte com base no conhecimento ancestral afro-colombiano e afro-brasileiro. Por fim, concluo que o cuidado escolar em contextos de violência armada é um trabalho ambíguo e contraditório. Embora tenha o potencial de afirmar a vida, também é um trabalho que nem sempre é bondoso, pois pode contribuir para reforçar as desigualdades de classe, raça e gênero. Argumento, portanto, que o cuidado escolar é um eixo analítico que permite entender as práticas políticas e a resistência nas escolas, mas também a irresponsabilidade do Estado em seu dever de garantir a vida e a educação das populações marginalizadas na Colômbia e no Brasil.