Análise do investimento a nível de propriedades agrícolas da região de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1973
Autor(a) principal: Moreira, Roberto José
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20240301-154646/
Resumo: O objetivo deste estudo foi verificar os fatores correlacionados com investimento agrícola, investimento em capital fundiário e investimento em máquinas e equipamentos a nível de proprietários agrícolas em uma região de agricultura relativamente moderna. A área em estudo inclui o município de Guaíra, representante da policultura de cereais e o município de Pontal e Sertãozinho, representantes da monocultura de cana-de-açúcar, que pertencem à região de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo. Procuramos identificar ainda, as diferenças de comportamento entre esses dois tipos de agricultura quanto ao investimento agrícola. Um dos principais objetivos foi verificar as influências da renda corrente e do estoque de capital na determinação do investimento agrícola agregado e desagregado em investimento em capital fundiário e investimento em máquinas e equipamentos. Foram utilizadas no estudo informações referentes a 80 propriedades rurais de Guaíra e 75 propriedades rurais de Pontal e Sertãozinho. As informações básicas foram obtidas a partir de dados primários referentes à pesquisa sobre Formação de Capital desenvolvida na região de Ribeirão Preto pela “Ohio State University” em convênio com a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo. A análise é relativa ao ano agrícola 1969/70 com em 1/8/1969 e fim em 31/7/1970. Para analisar os fatores correlacionados com o investimento agrícola, com o investimento em capital fundiário, e com o investimento em máquinas e equipamentos, estimamos funções de investimento. Foram utilizadas 19 variáveis independentes com diferentes combinações em 10 modelos lineares para cada tipo de investimento. As variáveis utilizadas foram: renda líquida (X1), entrada de recursos financeiros (X2), receita bruta (X3), vendas de capital (X4), crédito obtido (X5), capital agrícola no início (X6), capital fundiário no início (X7), capital em máquinas e equipamentos no início (X8), relação capital fundiário/capital em máquinas e equipamentos no início (X9), capital com maior grau de liquidez no início (X10), patrimônio não-agrícola no início (X11), débitos no início (X12), relação capital/produto (X13), investimento não-agrícola (X14), consumo (X15), grau de instrução do proprietário (X16), tempo como proprietário agrícola (X17), idade do proprietário (X18), e terra possuída no início (X19). Os modelos lineares VII e VIII mostraram-se melhor adaptados ao estudo do problema que os demais, pelos valores de R2 e pela consistência do comportamento das variáveis neles incluídas. Realizamos inicialmente uma análise descritiva utilizando-nos dos valores médios por propriedade e dos valores médios por hectare de todas as variáveis. Essa análise serviu para uma comparação entre os dois grupos de propriedades rurais. De uma maneira geral, os valores médios por hectare, são maiores para Pontal e Sertãozinho, principalmente para as variáveis independentes, exceções feitas para crédito obtido e para débitos no início. Os valores médios por propriedade para as variáveis Y1, Y2, Y3, X1, X2, X3, X5, X6, X7, X8, X9 e X12 são maiores para Guaíra. Isso ocorreu porque o tamanho médio das propriedades de Guaíra é mais do que o dobro do tamanho médio das propriedades de Pontal e Sertãozinho. Com relação aos valores médios das variáveis pudemos concluir, para as duas amostras, que: 1. As propriedades rurais da policultura de cereais são, em média, cerca de 2,7 vezes maiores do que as propriedades rurais da monocultura de cana-de-açúcar; 2. A monocultura de cana-de-açúcar utiliza uma tecnologia mais intensiva em máquinas do que a policultura de cereais; 3. O grau de instrução médio é praticamente o mesmo para as duas regiões; 4. Os proprietários rurais de Pontal e Sertãozinho estão em média, há mais tempo vinculados às atividades agrícolas e são mais idosos; 5. As propriedades de Guaíra apresentaram maior produtividade do capital do que aquelas de Pontal e Sertãozinho, medido pela relação capital/produto; 6. O investimento fundiário corresponde, em média, a cerca de 56% do investimento agrícola, restando 44% para os investimentos em máquinas e equipamentos, em Guaíra, e a cerca de -20% do investimento agrícola, ficando o investimento em máquinas e equipamentos com cerca de 120% do investimento agrícola, em Pontal e Sertãozinho; 7. O investimento agrícola médio é maior do que a renda líquida em Guaíra e menor em Pontal e Sertãozinho; 8. A receita bruta, em Guaíra, é 2,8 vezes maior que o investimento agrícola e, em Pontal e Sertãozinho, 12,5 vezes; 9. O capital agrícola no início do período em estudo era composto de 90% em capital fundiário e 10% em máquinas e equipamentos; 10. A acumulação média de capital agrícola medida pelo investimento agrícola correspondeu a cerca de 9% em Guaíra, e 2%, em Pontal e Sertãozinho, do valor do capital agrícola no início do período; 11. A acumulação média de capital fundiário, investimentos fundiários, correspondeu a cerca de 5% e -0,4%, respectivamente, em Guaíra e Pontal e Sertãozinho, do capital fundiário no início do período; 12. A acumulação média de capital em máquinas e equipamentos, investimentos em máquinas e equipamentos, correspondeu a cerca de 38% e 24% do capital em máquinas e equipamentos no início do período, respectivamente, para Guaíra e para Pontal e Sertãozinho. Supondo, arbitrariamente, uma depreciação média de 10%, o investimento líquido ainda será de 28% e 14%. Tais valores são bastante altos; 13. As propriedades de Guaíra dependem mais de financiamento externo para seus investimentos do que as propriedades de Pontal e Sertãozinho e se utilizam de maior volume de crédito; 14. Tanto para Guaíra como para Pontal e Sertãozinho, a receita bruta e as vendas de capital não são suficientes para fazer frente aos gastos de produção, de consumo familiar, de investimentos e para saldar os débitos passados. Os proprietários rurais utilizaram, para tais fins, os recursos oriundos do capital com maior grau de liquidez e do crédito agrícola; 15. Os investimentos não-agrícolas correspondem a cerca de 2% do investimento agrícola em Guaíra, e a 147% em Pontal e Sertãozinho. As regressões obtidas a partir dos modelos VII e VIII, respectivamente A e B, foram as utilizadas na discussão dos resultados. As variáveis X1, X4, X5, X6, X10, X11, X12, X14, X15, X16, compuseram o modelo A. O modelo B não teve X1, tendo sido substituída por X3. As regressões A foram as melhores para Guaíra e as regressões B foram as melhores para Pontal e Sertãozinho. Para o município de Guaíra, nas regressões lineares A, foram estatisticamente diferentes de zero: (1) para a função investimento agrícola (R2 = 0,96), coeficientes das variáveis: renda líquida, vendas de capital, crédito obtido, capital com maior grau de liquidez no início, patrimônio não-agrícola no início e débitos no início; (2) para a função investimento em capital fundiário (R2 = 0,96), os coeficientes das variáveis: renda líquida, vendas de capital, crédito obtido, capital agrícola no início, capital com maior grau de liquidez no início, patrimônio não-agrícola no início, débitos no início e consumo; (3) para a função investimento em máquinas e equipamentos (R2 = 0,75), os coeficientes das variáveis: crédito obtido, capital agrícola no início e capital com maior grau de liquidez no início. Para o município de Pontal e Sertãozinho, nas regressões lineares B, tiveram seus coeficientes estatisticamente diferentes de zero: (1) para a função investimento agrícola (R2 = 0,98), as variáveis: receita bruta, vendas de capital, crédito obtido, capital agrícola no início, capital com maior grau de liquidez no início, débitos no início, investimentos não-agrícolas, consumo e grau de instrução do proprietário; (2) para a função investimento em capital fundiário (R2 = 0,98), as variáveis: receita bruta, vendas de capital, capital agrícola no início, capital com maior grau de liquidez no início, investimentos não-agrícolas e grau de instrução do proprietário; (3) para a função investimento em máquinas e equipamentos (R2 = 0,77), as variáveis: receita bruta, crédito obtido, capital com maior grau de liquidez no início, débitos no início e consumo. Com relação as análises desses resultados pudemos concluir que: 1. Apesar das modificações por nós introduzidas, o modelo de DUESENBERRY (estudo de séries temporais), onde o investimento é função da renda e do estoque de capital, é válido para o estudo do investimento a nível de propriedades rurais com dados “cross sectional”; 2. Para o caso de análise a nível de propriedades rurais, as vendas de capital, o crédito obtido, o capital com maior grau de liquidez no início, o patrimônio não-agrícola, os débitos no início, o consumo e o investimento não-agrícola são importantes condicionantes dos investimentos agrícolas, apesar de não serem os únicos; 3. Para explicar os investimentos agrícolas, a renda líquida mostrou-se mais importante para Guaíra do que a receita bruta, tendo o inverso ocorrido para Pontal e Sertãozinho. Ambas estão positivamente correlacionadas com o investimento agrícola; 4. Os recursos monetários obtidos por vendas de capital estão correlacionados negativamente com os investimentos fundiários e não correlacionados com os investimentos em máquinas e equipamentos; 5. Aumentos no montante de crédito obtido, para os dois tipos de culturas (monocultura de cana e policultura de cereais), estão correlacionados positivamente com os investimentos agrícolas. Em Guaíra, esses crescimentos são realizados principalmente em capital fundiário. Em Pontal e Sertãozinho, determinam aumentos no investimento em máquinas e equipamentos, o mesmo acontecendo em Guaíra; 6. O crescimento do capital agrícola no início está relacionado, em Guaíra, com uma acumulação de capital em máquinas e equipamentos e com uma diminuição no investimento em capital fundiário. Em Pontal e Sertãozinho, está correlacionado com uma diminuição no investimento em capital fundiário. Esses comportamentos mostram que para as duas regiões em estudo, ocorreu uma mudança na tecnologia de produção, com maior uso de máquinas e equipamentos em relação ao capital fundiário; 7. Aumentos no capital com maior grau de liquidez no início estão correlacionados com acréscimos nos investimentos em capital fundiário e quedas nos investimentos em máquinas e equipamentos, em Guaíra, e com quedas nesses dois tipos de investimentos em Pontal e Sertãozinho; 8. Há uma relação positiva entre patrimônio não-agrícola no início e os investimentos agrícolas e em capital fundiário em Guaíra, apesar dos investimentos agrícolas crescerem menos do que o patrimônio não-agrícola. Em Pontal e Sertãozinho há uma relação negativa entre investimento não-agrícola e investimento agrícola e em capital fundiário. Em Guaíra existe uma complementariedade entre os setores agrícola e não-agrícola e, em Pontal e Sertãozinho, ocorre uma competição entre o setor agrícola e o não-agrícola na requisição de recursos para investimento; 9. A elevação dos débitos no início dos proprietários rurais está relacionada, em Guaíra, a uma queda nos investimentos agrícola e em capital fundiário e, em Pontal e Sertãozinho, a uma queda nos investimentos agrícola e em máquinas e equipamentos; 10. A elevação do consumo está relacionada a uma queda no investimento fundiário em Guaíra e a um aumento, não esperado, nos investimentos agrícola e em máquinas e equipamentos em Pontal e Sertãozinho; 11. Os proprietários rurais de Guaíra consideram os investimentos em máquinas e equipamentos como necessários ao processo produtivo, visto que este tipo de investimento não tem qualquer relação estatisticamente diferente de zero com os débitos no início, consumo e investimento não-agrícola, para Pontal e Sertãozinho, esse comportamento só se verificou para investimento não-agrícola; 12. A elevação do grau de escolaridade do proprietário induz a uma queda drástica no investimento agrícola e no investimento em capital fundiário, em Pontal e Sertãozinho. A queda no investimento agrícola corresponde a cerca de 12% do valor do investimento agrícola médio por propriedade para cada ano adicional de escolaridade. Como conclusões gerais do trabalho, podemos afirmar que ocorreu, nas duas regiões em estudo, uma acumulação de capital na agricultura. Devido às diferenças conjunturais que envolvem a policultura de cereais e a monocultura de cana-de-açúcar, a evolução da economia e a aplicação de políticas agrícolas levou, em média, para o período em estudo, a uma maior acumulação de capital na região policultora estudada (Guaíra) do que na região monocultora de cana-de-açúcar (Pontal e Sertãozinho). Em relação ao capital fundiário, a acumulação nessa categoria foi maior em Guaíra, chegando a decrescer em Pontal e Sertãozinho. Em relação ao capital em máquinas e equipamentos, a acumulação foi maior também para Guaíra. Ocorreu nas duas regiões uma mudança, apesar de lenta, na tecnologia de produção com mais uso de máquinas em relação ao capital fundiário. Como recomendações para futuras análises a nível de propriedades agrícolas, sugerimos que as conclusões obtidas sejam discutidas dentro de uma visão conjuntural da economia que envolva o período e as categorias em estudo. Sugerimos também que se investigue, em estudos de investimentos, quais as categorias (por estrato de área ou de renda) de propriedades agrícolas que mais têm se beneficiado do processo, ou seja, quais as categorias que têm respondido melhor aos estímulos conjunturais para acumulação de capital na agricultura. E, sugerimos ainda, que se procure investigar qual é a participação do fator trabalho nesse processo de acumulação. Quanto a recomendações para política agrícola, haveria a necessidade de se verificar até que ponto o município de Guaíra seria uma amostra representativa da policultura de cereais e, até que ponto, os municípios de Pontal e Sertãozinho representariam a monocultura de cana-de-açúcar de uma região de agricultura moderna. Deixando de lado esse problema de representatividade, gostaríamos de caracterizar, para e feito de localização do problema, dois tipos de políticas agrícolas. O primeiro tipo atuaria a nível de mercado e baseia-se na capacidade do setor agrícola em responder a estímulos de preços. O segundo, atuaria a nível de estrutura do setor, visando, principalmente, proporcionar condições básicas para o seu desenvolvimento a prazos de maior duração. Essa divisão em dois tipos de políticas agrícolas não indica que as duas não estão correlacionadas. Como exemplos de políticas do primeiro tipo temos as relacionadas com os preços dos insumos e produtos e a política de crédito agrícola. Como exemplos do segundo tipo temos as políticas de extensão rural, pesquisa, assistência técnica, educação, posse da terra e relações de trabalho. Somente para identificar possíveis subsídios que esta pesquisa poderá fornecer à política agrícola, aceitaremos, como pressuposições, que os objetivos das políticas agrícolas tenham sido: (1) estimular um processo de capitalização na agricultura e (2) estimular a intensificação do uso de máquinas e equipamentos em relação ao capital fundiário. As políticas de preços dos insumos e produtos têm uma correlação estreita com o montante da receita bruta e da renda líquida de cada proprietário rural. Essas estão positivamente correlacionadas com o investimento agrícola. Seus crescimentos, porém, estão correlacionados com maiores aumentos no investimento em capital fundiário do que no investimento em máquinas e equipamentos. Para o caso da cana-de-açúcar, a política de quotas de produção está diretamente relacionada com a receita bruta e a receita líquida, daí a sua influência no investimento agrícola. A política de crédito agrícola visa essencialmente fornecer recursos para investimentos em máquinas e equipamentos e para custeio de produção. Em Guaíra, para maiores volumes de crédito obtido, observou-se maiores investimentos em capital fundiário do que em máquinas e equipamentos e, em Pontal e Sertãozinho, o crédito está correlacionado positivamente com o investimento em máquinas e equipamentos. O aumento do capital com maior grau de liquidez no início está, em Guaíra, correlacionado com acréscimos no investimento em capital fundiário e queda no investimento em máquinas e equipamentos, e com quedas nos dois, em Pontal e Sertãozinho. Os fatores que podem estar influindo no aumento do valor desta variável são: poupanças em moeda, quantidade de animais possuídos e (o fator que julgamos principal) o estoque de produtos vegetais. A instabilidade do mercado de produtos pode ser, em determinado momento, o maior condicionante da elevação dos estoques. Aumentos no capital agrícola no início estão correlacionados com aumentos no investimento em máquinas e equipamentos, em Guaíra, e com quedas no investimento em capital fundiário nas duas regiões. Tal fato mostraria uma coerência dos objetivos pressupostos para as políticas agrícolas. Em Pontal e Sertãozinho, a elevação do grau de escolaridade do proprietário está correlacionada com uma queda drástica no investimento agrícola. Se incluirmos a este resultado a competição existente entre investimento agrícola e não-agrícola, poderíamos supor que os proprietários com maiores níveis de escolaridade estariam sendo estimulados a investir fora do setor agrícola. Se isso fosse verdadeiro, quais seriam as causas deste comportamento? A identificação dessas causas seria de grande valia para as políticas agrícolas. Por último, gostaríamos de enfatizar que a evolução conjuntural e as políticas agrícolas adotadas induziram, no período em estudo, um investimento agrícola bruto médio em torno de 9%, em Guaíra, e 2%, em Pontal e Sertãozinho. O investimento fundiário bruto médio foi de 5% e -0,4%, respectivamente, e o investimento bruto em máquinas e equipamentos foi de 38% e 24%, respectivamente.