Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2024 |
Autor(a) principal: |
Massari, Carolina |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16135/tde-30082024-105933/
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Resumo: |
O método de Antonio Candido (2010) dá centralidade à alimentação como o \"elemento explicativo da vida social\", e define a organização social para obter alimentação como \"expressão tangível dos atos e das intenções\" (CANDIDO, 2010, pgs. 35-36). O método de Malcolm Ferdinand correlaciona o racismo à destruição ambiental, cujas eficácias e ameaças à vida são inexoravelmente simultâneas, mas aparecem como separadas, na forma da \"dupla fratura colonial e ambiental da modernidade, que separa a história colonial e a história ambiental do mundo\" (FERDINAND, 2022, pg. 23). Ferdinand, ao mostrar como o racismo incide simultaneamente em pessoas e naturezas racializadas, postula uma forma de luta que suture a dupla fratura, numa \"Ecologia Decolonial\". Da incidência destes dois métodos na conceituação de paisagem, provém a \"paisagem alimentar\" e a \"paisagem antirracista\". A paisagem, \"produto de intenções e ações humanas\", \"é relativa a uma operação de paisageamento\" (BESSE, 2014 a, pg. 78) e é \"uma entidade relacional\" (BESSE, 2014 b, pg. 41). Eric Dardel, Jean Marc Besse e Augustin Berque colocam na paisagem a sede da volição, nosso \"corpo medial\" (BERQUE, 2023). Esta instância medial onde a vida acontece e ganha sentido é a zona de intensidades significantes onde o humano pode realizar-se no campo simbólico da \"geograficidade\", condição de base da existência (DARDEL, 2011). O \"paisageamento\" portanto, grafa as significâncias no ser e no ente, dotando-os de sentido. Este paisageamento é \"expressão fiel da existência\" (DARDEL, 2011, pg. 32). \"A paisagem não é, em sua essência, feita para se olhar\" (DARDEL, 2011, pg. 32). Desta forma, este conceito de \"paisageamento relacional\" ao implicar-se com a metodologia de Candido (2010) nos possibilita investigar a primazia do \"paisageamento alimentar\" bem como a anterioridade das intencionalidades. Deste modo, a \"paisagem alimentar\" contraria as \"paisagens agradáveis\" (WILLIAMS, 2011, pg. 201) que, ao encenarem uma paisagem feita para se olhar, encobrem as relacionalidades e a coconstituição entre seres e entes. Para tanto, por meio da metodologia de Ferdinand (2022), ao narrar paisagens através das histórias das paisagens de fome e das paisagens de alimentação ao longo da Colonialidade, são evidenciados racismos destrutivos, que operam na simplificação das paisagens (TSING, 2019) e no desterramento (MARANDOLA, 2022), como modo de explorar pessoas e extrair naturezas, bem como antirracismos desejantes e criativos que produzem paisagens de vida. Nesta trajetória, são elucidadas práticas paisageiras contracoloniais, através de multitudes agroecológicas (GIRALDO, 2022) e aquilombamentos (FERDINAND, 2022 e ALMEIDA, 2022). As experiências situadas no Projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo do Campo, nas Cozinhas Solidárias Povo Sem Medo em São Bernardo do Campo e Casa de Nazaré em Ribeirão Pires visibilizam como as intencionalidades contrahegemônicas incidem contra as paisagens de privação de direitos, por um paisageamento que acate a precariedade da existência (MARANDOLA, 2021) e desacate a precarização da vida. Deste modo, concluímos que as paisagens antirracistas contrariam simultaneamente a subsunção das subjetividades à racionalidade neoliberal e a extração das condições materiais da vida. |