Ouro, cobre e chumbo: A psicanálise, o grupo e o movimento analítico brasileiro em tempos de ditadura

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Silveira, Fernando da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-16092016-153834/
Resumo: O trabalho atual visa entender o papel que as alianças inconscientes desempenham na institucionalização da psicanálise brasileira. O psiquismo é entendido a partir de uma perspectiva intersubjetiva, tal como proposta por Kaës. Tem-se como hipótese que um dos efeitos das alianças inconscientes foi restringir a possibilidade de a psicanálise lidar, no movimento analítico brasileiro, com a questão do grupo, a partir do inicio dos anos 1970. Sob a sombra do narcisismo de Freud, desde a sua fundação, o grupo é, paradoxalmente, o suporte de transmissão da psicanálise e um objeto de estudos denegado, no movimento analítico. O objetivo deste estudo é contribuir com um debate atual acerca da relação entre a questão do grupo e a institucionalização do movimento analítico brasileiro. Foi realizada uma leitura de textos publicados na Revista Brasileira de Psicanálise, RBP, buscando elementos que ajudassem a compreender o afastamento do trabalho com grupos nas instituições psicanalíticas, fato ainda observado na atualidade. As alianças inconscientes são formações intermediárias que estão na base da construção dos vínculos entre o sujeito singular e o grupo, formando apoios psíquicos de uma instituição. A resistência ao conhecimento sobre o grupo é o ponto de partida para esta pesquisa. Foi realizado um trabalho de interpretação dos textos, sobre a institucionalização da psicanálise no Brasil. Foram identificados os efeitos das alianças inconscientes sobre o processo de institucionalização do movimento analítico brasileiro. Elucidar o passado pode ajudar a analisar, no presente, as resistências que ainda existem e que dificultam a extensão da psicanálise para a inclusão do grupo como um campo legitimo de estudo. Foram analisados, no total, 55 textos publicados entre 1967 e 1976. A análise foi dividida em dois períodos: 1967 e 1970; 1971 e 1976. Até 1970, diversos psicanalistas tentaram validar o trabalho com grupos como psicanalítico. A partir de 1970, as fronteiras da psicanálise delimitaram-se em torno do estudo do intrapsíquico, na situação da clínica bipessoal. Trabalhos com grupos ficaram para fora do movimento analítico por não serem legitimados como verdadeiramente psicanalíticos. Ao mesmo tempo, observa-se um insistente retorno do recalcado, pois as crises de relacionamento em grupo nas sociedades passam cada vez mais a serem discutidas nas páginas da RBP. Conforme afirma Kaës, o grupo é a quarta ferida narcísica para a humanidade e, também, uma importante ferida narcísica para a psicanálise da qual ela se defende, durante o período analisado. Os constantes ataques aos espaços intermediários, a partir do metaquadro social até o quadro institucional, sustentam uma clivagem que mantem a psicanálise em condições estritamente narcísicas, quando a libido se volta para a autopreservação. A psicanálise precisa dos espaços intermediários e do grupo para refazer a sua ligação com o mundo e nele sobreviver. A continuidade da vida acontece pelo outro, pelo grupo e não pelo Eu. É um grande desafio construir uma cultura de grupo que sirva de suporte psíquico para que o nosso narcisismo esteja a serviço das gerações futuras e da continuidade da vida