O Prix Goncourt e as Tendências Deformadoras: estudo sobre o comportamento de traduções para o português de obras laureadas, Rouge Brésil (2001), de Jean-Christophe Rufin, e Les Bienveillantes (2006), de Jonathan Littell

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Henriques, Lais Crepaldi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8165/tde-13022023-165620/
Resumo: Antoine Berman (1991) defende a ideia das Tendências Deformadoras, que acontecem principalmente em traduções \"etnocêntricas\" e \"hipertextuais\". Uma tradução etnocêntrica encaixa a tradução na cultura de chegada, ignorando a cultura fonte, enquanto a hipertextual não é nada mais que \"qualquer texto gerado por imitação\" (2012, p. 40), mais uma vez ignorando a cultura e o estilo do texto fonte. E, durante muitos anos, foram justamente traduções hipertextuais e etnocêntricas as predominantes nas traduções de romances, especialmente na França, que ainda mantém o conceito das \"belles infidèles\". Quando uma tradução é feita com o objetivo principal de se adequar à língua alvo, ela é deformada e muito da obra original acaba sendo perdido. Então, Berman propôs treze Tendências Deformadoras para explicar o processo de \"destruição\" de uma obra original quando é traduzida. O prêmio Goncourt é o prêmio literário mais conhecido e prestigiado do país. Em 1903, os irmão Jules e Edmond Goncourt, com o objetivo de deixar seu nome para a posterioridade, decidiram criar um prêmio que ajudasse financeiramente novos escritores, sem saber que sua criação mudaria completamente a literatura francesa por mais de um século. Após mais de cem anos, o a relevância do prêmio continua a mesma, mas se antes premiava um autor em dinheiro, agora o faz indiretamente com um aumento expresssivo na venda dos livros laureados. A partir de uma análise minuciosa do prêmio, dois romances ganhadores traduzidos no Brasil foram escolhidos para um estudo tradutológico aprofundado, sendo Rouge Brésil (2001), de Jean-Christophe Rufin, e Les Bienveillantes (2006), de Jonathan Littell. O livro de Rufin (2001) mostra uma forte narrativa histórica; as Tendências Deformadoras de Berman (1991) evidenciam a dificuldade crônica do português em contemplar a diferença dos tempos verbais Passé Simple e Passé Composé, deformando e empobrecendo, como consequência, o original. Les Bienveillantes (2006), de Littell, põe à luz uma outra tendência deformadora descrita por Berman (1991), o apagagamento das superposições de línguas. A narrativa de Littell (2006) traz um narrador bilíngue, usando diversos termos em alemão e, dentro da narrativa, a língua alemã sobrepõe-se à língua francesa, fazendo com que ela passe quase que completamente despercebida pelo leitor da versão em português. Tal sobreposição traz uma consequência clara: o bilinguismo do narrador de francês-alemão se apaga para dar espaço a um bilinguismo português-alemão, que na verdade não existe.