Fatores de risco ambientais na etiologia das fissuras orais não sindrômicas: uma revisão sistemática

• Ano de defesa: 2024
• Autor(a) principal: Queiroz, Thaís Bernardes de
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
• Palavras-chave em Português: Cleft lip; Cleft palate; Environmental exposure; Exposição ambiental; Exposição materna; Fator de risco; Fissura Labial; Fissura palatina; Maternal exposure; Meta-analysis; Metanálise; Risk factor
• Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/61/61132/tde-04102024-115936/

A fissura oral é a anomalia craniofacial congênita mais comumente encontrada em humanos. De etiologia multifatorial, envolvendo a interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, as fissuras orais não sindrômicas (FONS) representam de 60% a 70% de todos os casos de fissuras orais. Diferentemente do componente genético, os fatores ambientais são passíveis de modificação, e têm a capacidade, a partir da interação gene-ambiente, de influenciar na determinação de um fenótipo. Por isso, é indispensável identificar os fatores ambientais fortemente envolvidos no risco de ocorrência de FONS. Diante do exposto, o objetivo da presente revisão foi descrever os fatores maternos (ambientais e biológicos) considerados de risco para a ocorrência de FONS na população mundial. Ampla e sistemática busca na literatura foi conduzida, sem restrição de data, nas bases de dados SCOPUS, LILACS, PUBMED/MEDLINE, WEB OF SCIENCE e EMBASE. O idioma foi restrito a espanhol, inglês e português, e apenas estudos observacionais retrospectivos do tipo casocontrole foram considerados, com as observações se dando durante o período periconcepcional e gestacional. Os fatores ambientais de risco para FONS com dados estatísticos suficientes foram submetidos à metanálise, fazendo uma separação entre os subtipos de fissura oral. Modelos de efeitos aleatórios ou fixos com razões de chance e intervalos de confiança de 95% (IC 95%) foram usados como medidas de efeito. Dos 8765 estudos identificados, foram selecionados para as análises qualitativa e quantitativa 39 e 28 estudos, respectivamente. Um total de 28 fatores ambientais de exposição e biológicos maternos foram analisados, e metanálise foi conduzida para 9 deles: uso de álcool, tabagismo ativo, tabagismo passivo, medicamentos, produtos químicos e pesticidas, diabetes, hipertensão, ácido fólico e suplementação vitamínica. Consumo de álcool, tabagismo ativo, fumo passivo, exposição a produtos químicos e pesticidas e uso de medicamentos foram significativamente associados com as FONS. Na análise individual, tabagismo ativo (qualquer exposição avaliada) e o tabagismo passivo foram significativamente associados à fissura de lábio com ou sem o envolvimento de palato não sindrômica (FL±PNS). Já para o grupo fissura de palato não sindrômica (FPNS), a apenas o tabagismo ativo foi significativamente associado. O uso de suplementos vitamínicos foi estatisticamente associado com as fissuras orais, tanto na análise sem distinção para seus subtipos, quanto considerando cada um deles (FL±PNS e FPNS), caracterizando um efeito protetor contra as FONS. Da mesma forma, efeito protetor foi constatado com o uso de ácido fólico para o grupo FONS. Houve uma forte relação entre todas as formas de tabagismo e a ocorrência de fissuras orais, independentemente de seus subtipos, ressaltando o importante papel do tabagismo na etiologia das fissuras orais, assim como outros tipos de exposição materna durante o período gestacional, como consumo de álcool, medicamentos, e contato com pesticidas e produtos químicos. O significativo efeito protetor contra fissuras orais demonstrado por nossa metanálise para o ácido fólico e, especialmente, para suplementos vitamínicos, reforça a importância do uso desses compostos durante o período periconcepcional. Esses importantes achados poderão contribuir para nortear mundialmente políticas públicas de prevenção e aconselhamento sobre FONS.