Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2023 |
Autor(a) principal: |
Barbosa, Fabiana Rodrigues |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-08092023-170513/
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Resumo: |
Como testemunhamos em uma obra literária a pertinência teórico-clínica do gozo nãotodo fálico? Suas funções podem se expandir entre psicanálise e literatura? Nosso objetivo geral foi investigar implicações teóricas e clínicas do nãotodo conforme o Encore, Seminário 20 de Jacques Lacan (1972-73/2010), em articulação à peça literária Água viva, de Clarice Lispector (1973/1993). O objetivo específico foi analisar a intangibilidade do nãotodo, via escrita em Psicanálise, para expandi-lo. Nossa hipótese é a de que a função poética, polissêmica e equivocadora, transmite o nãotodo como lógica e gozo na psicanálise, que escuta a letra do Real se manifestar e escapar à linguagem. O método se impôs singular: instrumentos imprevistos experimentados nas contingências, análises a partir da erfahrung da pesquisadora psicanalista com apoio da literatura. A pesquisa é teórica, qualitativa, de caráter exploratório. Produção acadêmica como ocorrência na história pessoal. Fez-se leitura arriscada do efeito de Água viva na pesquisadora a-traída pela letra clariceana desde a orientação freudolacaniana, para que os autores co-laborem, ex-sistindo excentricamente um ao outro. Partimos da escrita de caso clínico representativo da repetição escutada na clínica: mulheres identificadas ao universal imaginado de mulher, que para Lacan não existe, mas é palavra que não remete a nada próprio da feminilidade, cujo ponto de referência inscreve-se como falha. Seguiu-se um estudo teórico da feminilidade, Édipo e castração em Freud, e sua tomada por Lacan simbolicamente. Resultou no Real: na direção dos tratamentos, na posição do analista e sua falta-a-ser, via campo da linguagem e do gozo, passando pela sexuação e articulando-se à função poética. Com equivocações, homofonias e neologismos, o fugidio nãotodo é outro gozo possível, evocado desde o gozo fálico não sem ele, passa pelo corpo e é nomeado mulher. Não binário, consente ao paradoxo, conjunto aberto de diversidades. Pela política do sintoma, negativa, louca, Real e nãotoda, realizamos uma leitura-escrita d\'? mulher. Tendo o significante negativo como dobradiça ao gozo do equívoco, tomamos Água viva como nãotoda paradigma, colheita de restos de impossível. Ouvimos o vazio, não compreendemos, escrevemos com o corpo, buscando a transmissão do impossível nesse passo lógico-teórico dado por Lacan com Clarice, que satura de significantes provisórios, fragmenta o sentido em explosão de sentidoS. Hibridismo narrativo, estilístico e tonal, articulados por um fio, convocam à implicação e à escrita de um diálogo em primeira pessoa com a voz narrativa de Água. Concluímos até aqui que a lógica nãotoda evoca gozo que cria traquejo com sintoma e castração: ética e política da psicanálise. Um modo de gozar com o Real, que bordeia e borda com o vazio. Um operador lógico-poético para, na clínica, orientar escuta, direção do tratamento e intervenções via significante aberto, que equivocam e temperam o ato: saber que suporta não saber; na teoria, pensar, formalizar e transmitir o impossível via posição e discurso do analista; no laço social, não se submeter de todo, divergir criando respostas que con-siderem o Real e desloquem relações de poder. Antídoto pacífico à dominação e à violência. |