A caridade e o interesse. A construção da plausibilidade da idéia de \"gestão\" no catolicismo brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2011
Autor(a) principal: Barbosa, Rogério Jerônimo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-20062011-094615/
Resumo: A proposta deste trabalho é apresentar uma explicação para a adoção de práticas administrativas e econômicas modernas pela Igreja Católica no Brasil. O objetivo é compreender como os atores religiosos justificam para si mesmos o envolvimento naquilo que anteriormente consideravam absurdo e oposto ao ideal da caridade (cf. Bourdieu, 1996a; Durkheim, 1989; Weber, 1982). Constata-se a existência de um conjunto amplo de fatos e acontecimentos recentes que indicam a entrada e a ampla difusão de conceitos econômicos e empresariais no interior do catolicismo. Esses fenômenos não parecem ter recebido explicações muito adequadas. O modelo de Bourdieu (1996) sobre a Economia dos Bens Simbólicos leva à um paradoxo insolúvel entre interesse e desinteresse, encerrando-se em uma duplicidade que não explica o movimento crescente de modernização das Igrejas. Também as teorias do mercado religioso não fornecem uma base para a compreensão. Para Berger (1985), a modernização leva ao enfraquecimento das igrejas, o que ocorre. Stark e Iannaccone (1994) não tratam de questões sobre administração e organização (cf. Frigério, 2008). O modelo explicativo adotado foi então o de Boltanski e Thévenot (1999; 2006), que permite fugir ao problema da duplicidade e compreender como são feitas críticas e associações entre ordens de valor. As análises empíricas se procederam em dois planos. Primeiramente, diacrônico, através da identificação das alterações dos formatos da crítica e compromisso entre os universos eclesial e secular. Foi feito então um histórico da idéia e das práticas de planejamento pastoral, desde 1890. Em segundo lugar, uma análise dos discursos contemporâneo daqueles atores que visam difundir, no meio católico, o pensamento e as práticas administrativas modernas. As análises corroboram a explicação proposta, de que a adoção de práticas empresariais se torna possível quando há um deslocamento da ênfase crítica para a ênfase nas figuras de compromisso entre os princípios de valor religiosos e seculares. A construção da plausibilidade da adoção de práticas econômicas capitalistas contemporâneas pela Igreja Católica se realiza quando os religiosos, ao invés de apontarem as atividades seculares ligadas aos bens temporais como expressões de egoísmo, individualismo e declínio dos valores tradicionais, passam a se apropriar delas como reforços para justificar seus objetivos organizacionais. Ou seja, administração moderna é justificada como um meio para evangelizar, promover o bem comum e a justiça; em suma, realizar a missão.