Dois Irmãos e seus precursores: um diálogo entre o romance de Milton Hatoum, a Bíblia e a mitologia ameríndia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Mello, Lucius de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8152/tde-03022014-110556/
Resumo: Esta dissertação detém-se na análise e na comparação do romance Dois Irmãos (2006), de Milton Hatoum, com a narrativa bíblica dos embates fraternos presentes no livro do Gênesis, especialmente o episódio dos gêmeos Esaú e Jacó. O relacionamento conflitante entre irmãos é um constante leitmotiv, um foco de interesse que se desenvolve de diversas formas ao longo de todo primeiro livro da Bíblia Hebraica. Hatoum vai à narrativa bíblica, considerada matriz do pensamento ocidental e da memória cultural da Humanidade pelo impulso do seu tema, logo, ele não parte da Bíblia. Como, então, o autor brasileiro trabalha o seu romance em que o fulcro é justamente o embate entre irmãos em torno da primogenitura (o que nos remeteria ao texto matricial bíblico Gênesis) para alinhavar sua ficção? A nossa viagem em busca dessa resposta é iluminada por um caminho tateante e trôpego. Como numa dança folclórica, narrador e protagonistas giram, trocam de lugar e se revezam nos papéis de Esaú, Jacó, Caim, Abel e José. Nossa pesquisa vai aproximar as narrativas ora por semelhanças ora por estranhamentos com base no romance de Hatoum. Buscaremos os vestígios da narrativa bíblica presentes na obra do autor brasileiro seguindo os rastros de Omar, Yaqub e, especialmente, Nael, um narrador intervalar, meio índio, meio árabe, filho bastardo de um dos gêmeos do romance com a cunhantã, empregada da família de origem libanesa. Diante de Nael, flertaremos o tempo todo com os olhos da memória. Nael nos conduzirá a uma surpreendente descoberta: é ele quem acende o foco nacional na nossa pesquisa e, como descendente do povo indígena do Amazonas, revela-se o mais legítimo herdeiro de toda ancestralidade mitológica, originária das lendas e mitos que envolvem gêmeos inimigos em narrativas tão ou mais milenares que a Bíblia. De certa forma, então, Nael rouba para si a luz, a princípio lançada sobre os gêmeos Omar e Yaqub, e se apropria da primogenitura quando estão em jogo o poder e o nome seja do patriarca da família libanesa, seja do mito original.