Entre o campo e a cidade: rotacismo em São Miguel Arcanjo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Espirito Santo, Júlia Maria França
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-24062020-184801/
Resumo: Esta pesquisa se dedica ao estudo da pronúncia variável de (L) em coda silábica (alto vs arto) e em ataque complexo (cliente vs criente) em São Miguel Arcanjo (SMA), município pertencente ao interior paulista tendo em mente as noções de estigma e prestígio, caras à Sociolinguística Variacionista (LABOV 2006 [1966]; 2008 [1972]). Foram coletadas 24 entrevistas sociolinguísticas em tal município, compondo uma amostra estratificada pelas variáveis sociais: sexo/gênero (masculino ou feminino), faixa etária (18-25, 30-40, 50+ anos), escolaridade (ensino fundamental ou ensino médio) e região de residência (campo ou cidade). Sobre esta última variável, destaca-se a nítida divisão no município, em duas regiões que se diferenciam por aspectos socioeconômicos e, hipoteticamente, sociolinguísticos. Um dos objetivos principais da pesquisa é investigar se à diferenciação campo e cidade correlacionam-se usos linguísticos. Para tanto, foram realizadas análises qualitativas e quantitativas. As primeiras mostram que o rotacismo de (L) em coda silábica é fortemente evitado na fala são-miguelense de modo geral, porque as ocorrências da variante rótica não chegam a 1% do total de dados. Desse modo, pode-se classificar o rotacismo em tal contexto fônico como um estereótipo local nos termos de Labov (2008 [1972]) e de Bortoni-Ricardo (2011). Para (L) em ataque complexo, os resultados dos testes estatísticos mostram que o rotacismo é evitado na fala de informantes mais jovens, mais escolarizados e da cidade. Aqui, a hipótese sobre o rotacismo ser favorecido na fala de residentes do campo, relativamente aos da cidade, confirma-se. As análises quantitativas apontam ainda para um processo de mudança linguística que ocorre na cidade, cuja norma teria sido rotacizar (L) em ataque complexo; entretanto, atualmente observa-se um processo de mudança em direção à pronúncia não rotacizada [l], variante padrão ou que está de acordo com a norma normativa (FARACO & ZILLES 2017). Tal mudança pode caminhar para o campo, onde se observa, no momento, variação estável e resistência à padronização linguística. Por fim, esta dissertação mostra que, embora possa ser associado um grau de estigmatização local para rotacismo de (L) em ataque complexo, visto que os informantes mais escolarizados e as mulheres da amostra tendem a evitá-lo, metade dos informantes não percebem ou desenvolvem um discurso sobre as pronúncias rotacizadas em \"O Dougras imprica com tudo\", quando da realização de um pequeno estudo de avaliação com os são-miguelenses. Nesse sentido, apesar dos resultados dos testes estatísticos, não se pode afirmar que o rotacismo de (L) em ataque complexo seja claramente estigmatizado em SMA.