Crise e transformação : um estudo sobre a experiência de alunos de baixa renda num cursinho popular

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Saffiotti, Allan
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-06062008-111610/
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo a identificação e discussão de crises e transformações psicossociais por que passaram estudantes de um cursinho popular de São Paulo. São jovens advindos de famílias de baixa renda, e história destes conheceu reiterado sofrimento político: humilhação social e exclusão de circuitos ou bens públicos. Os cursinhos populares são organizações alternativas cuja intenção principal assim resumíriamos: favorecer o acesso de jovens das classes pobres à universidade pública. A passagem de um jovem por cursinho popular assume figura de uma experiência muito pessoal, rica em traços psicossociais, e a sondagem dessa experiência e as transformações que promoveu foi o que informou esta pesquisa: como lembram e significam essa experiência? Como esta experiência afetou a percepção que estes depoentes tinham sobre si mesmos, sobre seu lugar social e sobre seu relacionamento com a tarefa do conhecimento? Os estudos disponíveis, geralmente dedicados ao exame de processos pedagógicos e ao julgamento da eficácia dos cursinhos populares, suscitaram-nos um exame que privilegiasse o recurso à memória dos estudantes. A pesquisa, como instrumentos metodológicos, adotou a reconstrução autobiográfica do pesquisador e entrevistas em profundidade com três ex-alunos deste Cursinho. A reconstrução autobiográfica pretendeu uma primeira atenção possível para os fenômenos a serem investigados. Vale, nesse sentido, a aposta de que o trabalho narrativo possa gerar e aproveitar alguma distância crítica entre o pesquisador e ele mesmo, entre o pesquisador e sua memória do Cursinho Popular. As entrevistas foram apoiadas por um roteiro de questões que pretendiam a todo tempo estimular o discurso livre referente a episódios no contexto das práticas de um cursinho popular. A análise das entrevistas norteou-se pelos trechos dos depoimentos que diziam respeito à vivência do cursinho e outros momentos de suas histórias que ajudaram a informar os significados das experiências privilegiadas neste trabalho. Nas memórias o Cursinho vai sendo desvelado como um lugar vivo, repleto de experiências significativas para além da sua proposta formal, muitas vezes associado à vivência de igualdade. A postura dos professores e demais agentes do cursinho foi apontado como decisivo na promoção de mudanças na relação que estes alunos tinham com os estudos, com a cultura escrita, com o mundo e com os outros. Um campo intersubjetivo e favorável, uma comunidade de destino, move o desejo e o trabalho estudantil, sustenta e apóia êxitos. Este campo e comunidade, quando abrigados por instituições (o cursinho popular, uma escola pública de qualidade), parecem especialmente apreciados por estudantes das classes pobres, marcados por formas de solidão social. A experiência de comunidade apresentou-se como fundante para uma relação com o conhecimento que não se dá a partir da humilhação ou da necessidade instrumental, mas como possibilidade e caminho para a fruição do mundo e para superação dessas experiências de humilhação.