A angústia filosófica de ser-outros: Fernando Pessoa e Heidegger no caminho da linguagem

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2025
Autor(a) principal: Tanajura Júnior, José Mozart
Orientador(a): Rohden, Luiz
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Departamento: Escola de Humanidades
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/13577
Resumo: A poética de Fernando Pessoa nos abre um caminho de possibilidades para se compreender o ser e estar-no-mundo do Dasein, numa perspectiva de diálogo entre poesia e filosofia, tendo por fundamento a ontologia hermenêutica de Martin Heidegger. Nos desvelamentos dos fenômenos presentes da poesia de Fernando Pessoa, deparamo-nos inevitavelmente com um aspecto peculiar de sua arte literária: a criação dos heterônimos. Na criação heteronímica, Fernando Pessoa investiga o sentido de sua existência-humana-no-mundo e pauta os seus questionamentos existenciais na tentativa de buscar o eu mais profundo em outros eus presentes em si, a partir de vários heterônimos. Em sua proposta heteronímica, Fernando Pessoa se multiplica em outros eus, tornando-se poeta em poetas. De fato, o processo de heteronímia faz surgir em Pessoa o sentimento de angústia diante da crise existencial, que se instaura no âmago do poeta: ser-outros para além da criação literária. Neste sentido, funda-se a nossa tese: há uma configuração de eus em Pessoa que vai além de uma estratégia literária ou estética em sua construção poética. A heteronímia é, na verdade, uma condição ontológica de Fernando Pessoa em sua autocompreensão de si mesmo, enquanto Dasein, que é, no mundo com os entes e diante das facticidades que a existência lhe impõe. Neste contexto, a filosofia de Heidegger auxilia-nos a compreender este processo ontológico em Fernando Pessoa, tendo em vista os temas ser, ser-no-mundo, existência, angústia e morte presentes nos versos e no contexto vital do poeta português. Como Heidegger argui que, na linguagem poética, o ser se desvela e se mostra de modo autêntico, a poesia de Fernando Pessoa nos mostra efetivamente o desvelamento de seu próprio ser, em meio aos versos de um heterônimo, que, segundo os diversos críticos literários, se lhe apresenta como uma espécie de autorretrato por possuir traços, inclusive ontológicos, reveladores da existência do poeta no mundo. Este heterônimo é Álvaro de Campos, que, por meio de sua proposta poética, expõe sua crise existencial na tentativa de descobrir seu verdadeiro eu profundo, enquanto heterônimo e, consequentemente, de Fernando Pessoa, enquanto seu criador. A tese corrobora que há um caminho viável para a investigação do sentido do ser do poeta, em sua angústia existencial, mediante o diálogo aberto e criativo da filosofia e poesia na obra de Fernando Pessoa, especialmente no recorte que fizemos a partir da poética de Álvaro de Campos, o heterônimo, desvelador do eu-profundo do poeta criador de outros eus.