Comportamento alimentar do Petrel-Gigante-do-Sul na Antártica: seleção de habitat, variação individual e efeitos da personalidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Finger, Júlia Victória Grohmann
Orientador(a): Petry, Maria Virginia
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Biologia
Departamento: Escola Politécnica
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/13553
Resumo: A variabilidade intraespecífica no comportamento de forrageio de aves marinhas é um fato conhecido. Além de variações associadas ao sexo, classes morfológicas ou idade é comum que indivíduos se especializem sua alimentação em graus variados, alguns sendo altamente fiéis a áreas específicas e consistentes em suas estratégias de forrageio. A variação individual pode ter importantes implicações para a espécie. Estudos recentes indicam que personalidade – a variação individual consistente em traços comportamentais, por ex. ousadia ou agressão – pode levar os indivíduos a diferirem em seu comportamento de forrageio. O objetivo geral dessa tese foi investigar diferenças sexuais e individuais na seleção de habitat e no comportamento de forrageio de petréis-gigantes-do-sul (Macronectes giganteus) e os efeitos da personalidade sobre esses padrões. A população de petréis-gigantes aqui estudada reproduz na Ilha Nelson, na Antártica Marítima. Foram utilizados dispositivos GPS de rastreamento para investigar a distribuição reprodutiva e o comportamento de forrageio em fina escala de 67 indivíduos nas estações reprodutivas de 2019/2020 e 2021/2022. Também foi aplicado o teste comportamental “resposta a um objeto novo” para definir a personalidade dos indivíduos rastreados, através do seu nível de ousadia. Step-selection functions foram utilizadas para investigar quais variáveis ambientais determinam a seleção de habitat alimentar, análises de repetibilidade e índices de afinidade de Bhattacharyya foram utilizados para investigar a consistência nas métricas e nas áreas de forrageio ao longo da reprodução, respectivamente. A população também foi monitorada constantemente para identificar potenciais comportamentos alimentares oportunísticos. Os petréis-gigantes apresentaram uma ampla distribuição espacial ao longo da reprodução. Fêmeas forragearam ao longo de toda a Península Antártica oeste enquanto machos se concentraram na costa da porção noroeste. A proximidade a colônias de pinguim influenciou fortemente a seleção de habitat de forrageio de machos, enquanto para fêmeas a profundidade da coluna d’água foi mais importante. Ambos os sexos sobrepuseram sua distribuição com áreas utilizadas pela pesca na Antártica e fêmeas, em particular, utilizaram áreas com atividade pesqueira na plataforma continental da Patagônia Argentina. A população apresentou consistência média nas áreas de forrageio entre viagens, assim como na distância máxima e duração das viagens de alimentação. Apesar da existência de variação interindividual de personalidade, ela não influenciou na consistência das áreas de forrageio, nem nas métricas das viagens. A principal fonte de variação se deu em termos de estágio reprodutivo e sexo. O canibalismo intergeracional e a coprofagia de fezes de foca-de-Weddell foram registrados pela primeira vez para a espécie. O primeiro comportamento, expresso apenas por machos, foi possivelmente resultado de especialização individual nesse recurso. O segundo, expresso por fêmeas e machos, ocorreu principalmente após longos turnos de incubação, provavelmente para recuperar-se rapidamente do jejum antes de uma viagem longa de alimentação. Devido à sua ampla distribuição na Península Antártica, de uma seleção de habitat associada a zonas marinhas variadas e a colônias de pinguins, áreas de descanso de foca e de atividade pesqueira, a espécie se configura como uma importante plataforma para monitorar populações isoladas e atividades de pesca ilegal dentro e fora da Antártica.