A realização variável de /r/ em onset silábico no português falado por ítalo-brasileiros do distrito de Planalto, Concórdia (SC) : produção e percepções linguísticas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Curioletti, Daiane Sandra Savoldi
Orientador(a): Battisti, Elisa
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/233973
Resumo: Esta tese resulta de pesquisa sociolinguística realizada no distrito de Planalto, Concórdia, situado no sudoeste do estado de Santa Catarina (SC) e fundado por descendentes de imigrantes italianos no início do século XX. Investiga a realização variável de /r/ em onset silábico em contexto de r-forte ([r]ápido::[h]ápido::[ɾ]ápido; ca[r]o::ca[h]o::ca[ɾ]o) no português brasileiro (PB) de contato com Talian. A tese assume a perspectiva da sociolinguística variacionista laboviana (LABOV, 2008 [1972]), da variação linguística como prática social (ECKERT, 2000) e dos significados sociais das variantes linguísticas (IRVINE, 2001; ECKERT, 2016; GAL, 2016) na realização de três análises: estudo etnográfico, análise de produção e análise de percepção e avaliação linguística. No estudo etnográfico, visitou-se a comunidade e participou-se de diferentes práticas sociais no período de março de 2019 a fevereiro de 2020. Observou-se que a fricativa é mais frequentemente realizada na fala de sujeitos com maior mobilidade geográfica e maior escolaridade, geralmente jovens, com destaque para as mulheres. Para a análise de produção, foram realizadas 24 entrevistas sociolinguísticas com informantes planaltenses. Dessas entrevistas, levantaram-se 1.334 contextos de r-forte, submetidos à análise estatística trinomial. Verificou-se a realização de 78,8% de tepe alveolar [ɾ], 12% de fricativa glotal [h, ɦ] ou velar [x, ɣ] e 9,2% de vibrante alveolar [r]. A vibrante múltipla é favorecida pelos falantes de meia-idade e mais velhos, e por sílabas mediais; o tepe é favorecido pelo gênero masculino. Vibrante múltipla e tepe são desfavorecidas pelos falantes mais jovens. A fricativa é favorecida pelos jovens e pelo gênero feminino. Os resultados de produção corroboram a etnografia. Na análise de percepção e avaliação linguística, baseada na técnica dos falsos pares (matched guise technique), os 24 informantes que concederam as entrevistas sociolinguísticas foram contatados novamente e ouviram seis áudios com a leitura em voz alta de um mesmo texto por três homens e três mulheres, cada qual realizando uma das variantes em questão. Após a audição dos seis áudios, os 24 informantes submeteram-se a um teste em que avaliaram, numa escala Likert de 0 a 5, as categorias de classificação Prestigiado, Sotaque urbano e Sotaque do interior. Em termos gerais, o teste revelou que o tepe é percebido como mais rural e menos prestigiado; a fricativa, como mais urbana e mais prestigiada. Na fala masculina, o tepe soa menos prestigiado do que na fala feminina, e a fricativa na voz masculina é percebida como mais urbana e tem maior prestígio do que na fala das mulheres. A vibrante múltipla é mais urbana na voz masculina e menos urbana na fala feminina, sendo uma realização valorizada na comunidade. O tepe é percebido como menos prestigiado principalmente na avaliação dos mais jovens. Na 8 associação entre resultados de produção e estudo de percepção, somente a correlação vibrante/tepe.fem para Sotaque urbano é significativa (negativa). As marcas do contato PBTalian evidenciam-se menos na fala das mulheres, que parecem estar dando início à mudança linguística de tepe para fricativa no contexto de r-forte no PB local. A tese conclui que, a despeito de avaliações relativamente negativas recebidas no teste de percepções linguísticas, as variantes tepe e vibrante alveolar no PB dos habitantes de Planalto são traços da identidade étnica dos descendentes de italianos da comunidade pesquisada. Indexam a persona descendente de imigrantes italianos nessa comunidade rural, o que explica, especialmente no que se refere ao tepe alveolar, sua expressiva ocorrência na fala da comunidade.