O protagonismo das potências médias no capitalismo informacional : uma análise do comportamento do Canadá no Ártico

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Cuogo, Francisco Coelho
Orientador(a): Faria, Luiz Augusto Estrella
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/218645
Resumo: O Sistema Internacional (SI) contemporâneo tem a sua origem no continente europeu, a partir do século XI. Os efeitos de longo prazo nas esferas da política e da economia internacional evidenciam que as ações dos primeiros estados que se formaram naquele momento perpetuaram as disputas pelo poder. Para alcançar poder os Estados nacionais se associaram às suas economias nacionais e alavancaram novas relações de produção e de comércio, garantindo acúmulo de capital. Este seria revertido em recursos que permitissem ao Estado competir com outros Estados, mas, também contribuiria na expansão de territórios e das estruturas económicas. Esta incessante busca pelo poder através dos recursos econômicos estimulou o avanço da revolução industrial na Inglaterra. Os países que assumiram a vanguarda dos processos de produção industrial aceleraram o consumo e garantiram maior arrecadação de capital, acumulando riquezas e convertendo-as em recursos militares e em estruturas políticas que lhes permitiram propagar seu sistema para além de seus territórios. No entanto, visto que o jogo de disputas pelo poder sempre foi dinâmico e assimétrico, a industrialização, depois de consolidada em diversos territórios do globo, já não seria mais um diferencial competitivo para os países pioneiros deste processo. As limitações nas margens de lucro seriam inevitáveis, contribuindo para a crise do sistema capitalista nos anos 1970 que, consequentemente, impulsionou o surgimento de um novo modelo de produção e acumulação. Através da produção descentralizada e interdependente surgiu o modelo a acumulação flexível. Este baseava-se numa estrutura produtiva, organizada em redes globais de produção e de consumo. E em reação à crise alguns Estados reorganizaram as suas estruturas de produção numa dinâmica de atuação global que acabou por contribuir num acúmulo ainda maior capital e de poder. O novo modelo flexível afetou o modelo fordista de acumulação e impulsionou a emergência das novas condições sociais e econômicas que também apresentaram novas possibilidades para o protagonismo de atores que antes eram consideradosde pouca relevância na ordem mundial: as potências médias. A lógica fordista, orientada para estruturas verticais, em cadeia de comando e orientada pela centralização do poder, associada à força da ótica positivista e ao realismo nas Relações Internacionais, na primeira metade do século XX, direcionava toda a atenção para as grandes potências. E atribuía a estes atores uma relevância exclusiva na dinâmica do Sistema Internacional. No entanto, a interdependência No entanto, a interdependência evidenciada na economia informacional, não só enfraquecia a eficácia da lógica fordista e o processo de acumulação das grandes potências, como destacava a importância do protagonismo de outros atores, incluindo as potências médias. Nosso argumento, portanto, é que as potências médias na ordem internacional ganham relevância, como protagonistas do SI, no período pós-industrial e sua capacidade de ação evidencia-se na acumulação flexível. Neste momento emerge uma estrutura global de produção, distribuição e consumo que se intensifica a partir de relações interdependentes que envolvem corporações, governos, organizações internacionais, Estados etc, e todos precisam operar em uma complexa rede transnacional que afeta, de maneira sistêmica, questões políticas, econômicas, sociais, culturais e ambientais. Assim, buscamos analisar o papel das potências médias no contexto pós-industrial e no capitalismo informacional. Pois, a condição de regulação e de dominação passa a se articular em estruturas horizontais e enfraquece a lógica de predominância vertical – tendo em vista a necessidade da coexistência entre os diversos protagonistas deste novo cenário. Para apresentar a nossa linha argumentação aplicamos a lente teórica da Teoria Crítica das Relações Internacionais no comportamento de um ator que é reconhecido como uma potência média por excelência, a saber, o Canadá. E definimos um recorte geográfico na sua atuação. Isto é, delimitamos a análise do Canadá na região ártica, pois o Ártico é uma região que tem recebido cada vez mais atenção mundial e crescido em relevância econômica e política no SI,. Assim, conseguiremos analisar o protagonismo de uma potência média num contexto sensível à nível de preocupação e atenção globais, mas também uma região onde o Canadá tem sido sempre presente e atuante. Logo, conseguimos perceber se o Canadá, como uma potência média e, especialmente uma potência média no Ártico, posiciona-se de maneria contra-hegemônica, tendo em vista que nesta região ele interage diretamente com grandes potências do Sistema Internacional, ou se ele segue uma orientação compatível com as ordens hegemônicas do SI. Isto nos permite ainda considerar se o destaque e a importância que estas potências receberam no novo modelo de acumulação flexível continuam mantendo-as subjugadas aos interesses dominantes da economia mundial, ou se este novo cenário abre espaço para ações contra-hegemônicas destes atores na sua relação com as ordens hegemônicas globais.