Cozinha de raiz : as relações entre chefs, produtores e consumidores a partir do uso de produtos agroalimentares singulares na gastronomia contemporânea

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Zaneti, Tainá Bacellar
Orientador(a): Schneider, Sergio
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/164708
Resumo: O atual processo social de gastronomização tem deflagrado uma relação cada vez mais estreita entre a gastronomia e o meio rural. Entre as tendências da gastronomia contemporânea é crescente a demanda e o uso de ingredientes locais, tradicionais, produzidos com métodos ecológicos, que remetam ao sentido de trajetória, identidade e autenticidade, que conferem traços de singularidade aos mesmos. Essa demanda tem evidenciado, por um lado, uma maior preocupação dos comensais e chefs pela origem dos produtos e, por outro, uma (re) aproximação e (re) valorização das relações entre chefs, comensais e agricultores familiares, o que pode representar novas oportunidades de mercado para a Agricultura Familiar. Esta tese procura problematizar estas questões e tem como principal objetivo analisar como ocorrem as relações entre chefs, produtores e comensais no processo de inserção e uso de produtos agroalimentares singulares na gastronomia contemporânea, buscando perceber em que medida este consumo está estimulando novos mercados para a Agricultura Familiar e grupos tradicionais. Foram estudados quatro casos de restaurantes e Instituições que apresentavam iniciativas e práticas de relações diretas entre chefs, produtores e comensais. Para obtenção dos dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com estes atores, observação participante nos restaurantes e instituições, análise de cardápios e da trajetória dos ingredientes. A mobilização dos conceitos da sociologia econômica e da análise dos dados obtidos na pesquisa de campo, proporcionaram elementos para a elaboração de conceito explicativo para o fenômeno estudado, denominado Cozinha de Raiz (embedded gastronomy). Esta se constitui a partir de cadeias gastronômicas curtas, que evidenciam relações de proximidade e enraizamento social entre os produtores, chefs e comensais e é alinhavada por produtos singulares, que tem seus padrões de qualidade e distintividade construídos e legitimados por meio das informações compartilhadas entre os atores. Essas cadeias se configuram de duas principais formas: a) Cadeia Gastronômica Curta Chefcêntrica, que tem formação horizontal, é organizada entre atores e tem o chef como elo central da cadeia; ou b) Cadeias Gastronômicas Curtas Sinérgicas, organizada de maneira vertical, mediada por instituições e não apenas pelos atores, permitindo aos consumidores e produtores maiores possibilidades de interação, conferindo maior poder de agência e autonomia para os produtores, que podem estabelecer redes tanto com os chefs, quanto com os consumidores de maneira direta. Em ambas, o chef aparece como ator social central tanto na formação destas cadeias, quanto na ressignificação dos ingredientes em direção à singularidade. Pode-se inferir que na formação horizontal, ainda que se constate a formação de uma cadeia curta, se observa, também, a formação de nichos de mercado, para poucos produtores e poucos consumidores, com baixo efeito de mudanças culturais e de desenvolvimento dos produtores. Já na formação vertical, há descentralização de poder, maior grau de relação entre os atores, maior autonomia e empoderamento dos produtores e flexibilidade para o acesso a este mercado. Assim, pode-se dizer que a Cozinha de Raiz contribui para o desenvolvimento rural, por ressocializar os produtores e relocalizar os produtos na constituição das estratégias de valorização do produtor e do produto nas cadeias gastronômicas curtas, a partir da construção de novos mercados com novos padr es de governan a. O chef cumpre um canal educativo para conscientização dos comensais sobre a importância da valorização da agricultura familiar e dos grupos tradicionais. Porém, é preciso que a atuação do chef esteja associada a políticas e a iniciativas que garantam o fortalecimento da agricultura familiar, a valorização da biodiversidade nacional e o desenvolvimento de canais curtos de comercialização.