Trajetórias do nascer : a construção cultural da incompetência de mulheres gestantes para gestar e parir no subsetor suplementar de saúde em Porto Alegre, RS

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Veleda, Aline Alves
Orientador(a): Gerhardt, Tatiana Engel
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/129507
Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar a construção de uma representação cultural sobre a incompetência feminina para gestar e parir por meio da análise das trajetórias assistenciais de mulheres atendidas no subsetor suplementar de atenção à saúde de Porto Alegre, RS. Procurou-se problematizar o contexto social e cultural da vivência da gestação e do parto das mulheres atendidas por planos ou seguros saúde, compreendendo a gestação e o nascimento como processos culturais e inseridos na contemporaneidade. Para tanto foi realizado um estudo etnográfico de abril a novembro de 2014 na cidade de Porto Alegre, RS, com a participação de oito mulheres gestantes, atendidas por planos de saúde e que estavam com mais de 32 semanas de gestação. Os dados foram produzidos por meio de observação participante, anotações em diário de campo e entrevistas semi estruturadas, as quais foram gravadas e transcritas na íntegra. O processo analítico foi orientado pela antropologia interpretativa, tendo como base o referencial teórico sobre Cultura de Clifford Geertz. Foi possível apreender as trajetórias assistenciais das mulheres acompanhadas, desenhando caminhos de modulação e resistência. Apreendeu-se visões complexas e subjetivas sobre a gestação e o parto, sempre compreendidas em meio a cultura em que as mulheres viviam e experencivam estes processos. As redes sociais apresentam-se como elementos moduladores sobre os ideais de maternidade e escolhas do parto. A gestação é compreendida por um olhar medicalizado, orientando à ideia de que a mulher não deve envolver-se com a gravidez e o parto, visto ser estes de domínio da medicina. Crenças e rituais fortalecem tais ideais, servindo como modelos culturais para a futura mulher-mãe. O momento do nascimento é envolto pelo discurso do medo e do risco, reforçando a necessidade do saber médico e a incompetência feminina para viver o parto. Durante o puerpério a mulher vivencia o processo de “tornar-se mulher-mãe”, questionando sobre seus ideais de maternidade e vivendo uma ambivalência de sentimentos, o que a fragiliza, tornando-a sensível à opiniões, intromissões e modulações culturais e sociais. Por fim, identificam-se trajetórias de atenção marcadas pela violência física e emocional no subsetor suplementar, levantando questionamentos sobre a qualidade da assistência ofertada às suas usuárias. A partir disso tudo, fica a compreensão que as mulheres, moduladas por saberes biomédicos caminham por trajetórias semelhantes na saúde suplementar, por caminhos que desapropriam-nas de seu corpo e de suas escolhas, experenciando momentos de desrespeito e violência. No entanto, ainda existem movimentos de resistência, trajetórias de fuga, as quais possibilitam, não sem sofrimento, a vivência de gestar e parir que elas desejam. É preciso urgentemente atentar para como está ocorrendo a atenção obstétrica no subsetor suplementar, para além dos percentuais de cesariana, os quais são apenas o desfecho esperado de uma gestação modulada, invadida e culturalmente medicalizada.