Narrativas sobre suicídio, cultura e trabalho em um município colonizado por alemães

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Moura, Rosylaine
Orientador(a): Meneghel, Stela Nazareth
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Palavras-chave em Espanhol:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/211344
Resumo: Esta investigação objetivou compreender o suicídio em um município colonizado por alemães. Trata-se de um estudo de caso de metodologia mista combinando abordagens quantitativa e qualitativa. O cenário da pesquisa foi Santa Cruz do Sul, importante núcleo de colonização alemã no Rio Grande do Sul que registra taxas de suicídio historicamente elevadas. As informações primárias derivaram das narrativas de 16 informantes-chave, indivíduos que residem e atuam nos setores jurídico, trabalho, saúde, educação, religião e comunicação no município. As informações secundárias originaram-se do DATASUS e de Declarações de Óbito de 2003 a 2014. Nestes doze anos encontrou-se: 227 suicídios, média de 19 suicídios/ano, maior frequência em maio e novembro, taxas padronizadas entre 7 a 28/100.000 (45/100.000 masculina e 8/100.000 feminina) com razão de masculinidade de 5,2. Mortalidade proporcional média de suicídios 2,2% e de homicídios 2,1%. Todos indicadores de suicídio do município acima dos estaduais e nacionais. A maioria eram homens (82%), brancos (89%), 45 a 59 anos (32%), baixa escolaridade (37%), viviam só (52%), agricultores (26%) e industriários (16%) através de enforcamento no domicílio (70%). Maior frequência na cidade (69%), mas maior risco na zona rural (RR= 3,5). Destacaram-se nas narrativas os temas: “o espírito alemão”, “o trabalho que mata” e “os caminhos da prevenção”. O primeiro refere-se à cultura alemã que inclui rigidez de conduta pessoal, familiar e social; dificuldade de lidar com frustrações e de expressar sentimentos; projeto de vida pautado no acúmulo de bens materiais e na demonstração de posse como sinônimo de sucesso, mantidos pelo germanismo como divisor entre “alemães” e “brasileiros”. O segundo refere-se ao sofrimento físico e mental dos agricultores e demais trabalhadores do fumo cimentado pela ética do trabalho que propugna o trabalho árduo como realização de vida, mesmo quando causador de adoecimento e morte, calcado no desempenho e medo da falência. Esse “caldo de cultura” facilitaria o suicídio e explicaria, pelo menos em parte, a frequência do evento. Os informantes-chave acreditam que falar abertamente sobre o tema; capacitar profissionais e criar uma rede intersetorial permanente mudariam esta realidade. A tese pretende contribuir, mesmo que modestamente, para discussões na academia e na sociedade que resultem na prevenção do suicídio.