Avaliação do efeito agudo da prática de exercício físico e de práticas body-mind em pacientes internados por episódio depressivo: um ensaio clínico randomizado

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Torelly, Gabriela Aquino
Orientador(a): Fleck, Marcelo Pio de Almeida, Schuch, Fabio Barreto
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/252502
Resumo: Introdução A depressão é um dos transtornos mentais mais prevalentes, afetando cerca de 15% da população mundial. Os transtornos depressivos estão associados com o comprometimento do funcionamento social, laboral e cognitivo do indivíduo, além de um prejuízo em sua qualidade de vida. Os medicamentos antidepressivos e as psicoterapias, especialmente a cognitivo-coportamental e a interpessoal, são considerados os tratamentos de primeira linha para a depressão. No entanto, mais de metade dos pacientes continua apresentando sintomas após a primeira intervenção terapêutica, necessitando tratamentos complementares. O exercício físico (EF) e as práticas body-mind (BM) vêm sendo investigadas como estratégias terapêuticas para o tratamento de transtornos depressivos. No entanto, existem poucos estudos desenhados para estudar os efeitos agudos do EF e BM em pacientes deprimidos nos sintomas mentais e em biomarcadores. Objetivos Avaliar os efeitos agudos de EF e BM na ansiedade, afetos negativos e positivos, bem-estar atual, biomarcadores inflamatórios e fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) em pacientes internados por um episódio depressivo como parte de um diagnóstico de transtorno uni ou bipolar. Métodos O presente estudo é um ensaio clínico cruzado randomizado (cross-over). A amostra constituiu-se de homens e mulheres entre 18 e 70 anos de idade, internados na unidade psiquiátrica de um hospital da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), com diagnóstico de Depressão Maior (unipolar) ou Depressão Bipolar, de acordo com os critérios estabelecidos no DSM-5 (equivalente ao CID F31, F32 e F33). O diagnóstico clínico inicial de cada paciente foi confirmado por meio da Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) administrada por um médico previamente treinado. Os critérios de exclusão foram outros diagnósticos como abuso de substâncias, esquizofrenia e transtornos alimentares, além de contraindicações ao exercício físico. Foram utilizadas as escalas PANAS, para avaliar afeto positivo e negativo, I-DATE estado, para avaliar a ansiedade estado e uma escala análogo-visual adaptada para medir o bem-estar atual. Foram coletadas amostras de sangue para dosagem de marcadores de regeneração neuronal e de inflamação, antes e depois de cada intervenção. A amostra foi constituída de forma intencional, não probabilística e por voluntariedade. O recrutamento dos sujeitos foi feito através de convite a todos os novos pacientes que ingressarem para internação. Os dados sociodemográficos, clínicos, de estado de ansiedade, afetos, bem-estar, bem como amostras sanguíneas foram coletados imediatamente antes e após as práticas de EF e BM. Modelos de equações de estimativa generalizada foram aplicados para avaliar os efeitos das intervenções nas variáveis clínicas e testes não paramétricos de Wilcoxon foram utilizados para avaliar os efeitos das intervenções nas variáveis biológicas. A relação entre variações em biomarcadores e escalas psicométricas foi explorada usando os coeficientes de correlação de Pearson. A prática EF consistiu em um treinamento circuitado (aeróbico e anaeróbico) alternado por segmento, mesclando exercícios resistidos (de força) com exercícios aeróbicos. A intervenção BM consistia em elementos de mindfulness (atenção plena), posturas de Yoga, e técnicas de relaxamento e meditação. A prática intitulada controle, realizada entre as duas práticas acima, consistia em trabalhos manuais de desenho e pintura. As três práticas duravam cerca de 35 minutos, eram realizadas por todos os pacientes, no período de uma semana, respeitando no mínimo 48h entre elas. Resultados Dos 33 pacientes que iniciaram o estudo, 24 participaram das três intervenções. A amostra tinha idade média de 37,03 ± 14,32 anos, era 72% feminina, 27% com depressão bipolar, e 73% com depressão unipolar. Os resultados mostraram que houve diferença significativa (pré / pós) na análogo-visual de bem-estar na prática de EF (p= 0,008), por GEE, teste Wald Chi- Square ( 9,58), com tamanho de efeito forte (TEef=0,8). Observou-se reduções significativas nos afetos negativos, nas três práticas, com uma redução maior na prática BM (p=0,021). Na análise dos biomarcadores observou-se redução significativa de IL-1β na BM, e de TNF-α no EF. Houve correlação moderada entre IL1B e Afeto positivo na prática BM (0,542) ,e no EF (0,481) e forte (0,649) entre IL10 afeto positivo no EF. Discussão O presente estudo mostrou que uma única sessão de EF em circuito ou de BM aumentou agudamente o bem-estar atual, reduziu os afetos negativos e alterou marcadores inflamatórios em pacientes internados com episódios depressivos. A atividade de controle também promoveu mudanças, embora em menor grau, no bem-estar e nos afetos negativos. Existe um corpo substancial de evidências da eficácia dos programas de atividade física no tratamento de pacientes deprimidos, principalmente com base em exercícios aeróbicos a médio e longo prazo (efeito crônico). O presente estudo, no entanto, encontrou um efeito agudo de um programa de treinamento em circuito sobre o bem-estar com um grande tamanho de efeito, no qual o componente aeróbico estava restrito a intervalos de descanso ativos. As práticas BM, incluindo Yoga e atenção plena, têm sido exploradas como estratégias terapêuticas complementares para o tratamento de pacientes com doença mental. Os resultados do presente estudo mostraram uma redução nos afetos negativos medidos pela escala PANAS após uma sessão de BM, o que está de acordo com estudos anteriores, mostrando que uma única sessão de yoga é capaz de reduzir significativamente os afetos negativos. Conclusões O presente estudo aponta que uma única sessão de BM ou EF parece ser capaz de alterar agudamente variáveis clínicas e biomarcadores de inflamação. Os resultados apresentados indicam a relevância e efetividade dessas estratégias no tratamento de episódios depressivos reforçando a importância do tema na pesquisa e na prática clínica em saúde mental.