Sistema modulatório descendente da dor na fibromialgia : preditores de disfunção e conectividade funcional por ressonância magnética funcional

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Soldatelli, Matheus Dorigatti
Orientador(a): Caumo, Wolnei
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/252508
Resumo: A fibromialgia (FM) é uma síndrome que se caracteriza por dor musculoesquelética generalizada, fadiga, sono não reparador, alterações cognitivas, sintomas depressivos e neurovegetativos, cujo processo neurobiológico é múltiplo e complexo. Apesar de ser de grande relevância ao indivíduo e à sociedade, esta patologia com frequência não recebe a atenção necessária pelos órgãos que definem as prioridades da assistência na saúde. A prevalência populacional, segundo os critérios da Sociedade Americana de Reumatologia, chega a 5,4%, e os gastos decorrentes de atendimento, impostos e aposentadoria precoce por incapacidade são estimados em mais de 29 bilhões de dólares ao ano nos EUA. A falha das terapêuticas farmacológicas convencionais ocorre em cerca de 50% dos pacientes. Postula-se que essas taxas elevadas de insucesso se devam em parte à falta de conhecimento sobre os mecanismos fisiopatológicos. O mecanismo que permeia o conjunto de sintomas que constituem a FM é a síndrome de sensibilização central (SSC). O conjunto de sintomas inclui o sofrimento psíquico, distúrbios do sono, fadiga, dor, alodínia e hiperalgesia. Esta condição tem como mecanismo fisiopatológico o funcionamento prejudicado de neurônios e circuitos em vias nociceptivas, com aumento do campo receptivo, da eficácia sináptica da excitabilidade e redução da inibição. Outro componente fundamental na SSC é a disfunção do sistema modulatório descendente da dor (SMDD), que pode ser avaliado através do teste de modulação condicionada da dor (conditioned pain modulation test [CPM-test]). Neste teste, os participantes podem ser classificados como respondedores ou não respondedores, sendo que neste último grupo há uma perda da capacidade de inibição do SMDD. Estudos de neuroimagem em pacientes com dor crônica demonstram alterações funcionais corticais e de suas conexões com estruturas subcorticais que constituem a neuromatriz da dor. Entre as técnicas de neuroimagem, merece destaque o estudo com ressonância magnética funcional (fMRI) em estado de repouso (do inglês, resting-state [fMRI ou rs-fMRI]), para avaliar a conectividade funcional intrínseca (CFI). Com a finalidade de compreender fatores clínicos, laboratoriais e de neuroimagem que poderiam discriminar a disfunção do SMDD, foram desenvolvidos dois estudos. No primeiro estudo, buscamos identificar se um conjunto de sintomas da FM e os biomarcadores de neuroplasticidade poderiam constituir um índice composto de gravidade, bem como se esse teria poder discriminatório para identificar respondedores e não respondedores ao teste de CPM. Nesse estudo transversal foram incluídas 117 mulheres com FM (n = 60) não respondedoras e (n = 57) respondedoras, com idade entre 30 e 65 anos. A avaliação do SMDD pelo teste de CPM foi feita pelas mudanças nos escores da escala numérica de dor, usando-se um protocolo padronizado. A análise de regressão logística multivariada hierárquica foi usada para construir um índice ajustado ao escore de propensão para identificar não respondedores em comparação com respondedores ao teste de CPM. As seguintes variáveis foram mantidas nos modelos: uso de analgésico quatro ou mais vezes por semana, limiar de dor ao calor (heat pain threshold, HPT), má qualidade do sono, catastrofização da dor, níveis séricos de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), número de diagnósticos psiquiátricos e impacto dos sintomas da FM na qualidade da vida. A receiver operating characteristic curve (ROC) mostrou que os não respondedores podem ser discriminados dos respondedores por um índice composto pelos sintomas da FM combinados a marcadores de neuroplasticidade (área sob a curva [AUC] = 0,83; sensibilidade = 100%; especificidade = 98%). O segundo estudo avaliou padrões de CFI entre as redes cerebrais de processamento da dor e o SMDD, através da rs-fMRI em pacientes com FM. Além disso, investigamos se o padrão de conectividade entre o córtex somatossensorial primário (do inglês, primary somatosensory córtex [PSC ou S1]) e a substância cinzenta periaquedutal (do inglês, periaqueductal gray matter [PAG]) está relacionado aos sintomas clínicos, em pacientes respondedoras e não respondedoras ao CPMtest. Nesse estudo, foram incluídas 33 mulheres com FM, classificadas como não respondedoras (n = 13) e respondedores (n = 20) ao teste de CPM. Na análise em que comparamos respondedoras e não respondedoras com um modelo linear generalizado, identificamos que não respondedoras apresentaram diminuição da CFI entre o PSC e a PAG (χ2 =10,41; DF = 1; p < 0,001). A CFI S1-PAG no hemisfério cerebral esquerdo foi positivamente correlacionada aos níveis de sintomas de sensibilização central e negativamente correlacionada à qualidade do sono e aos escores de dor. A análise com ROC mostrou que a CFI entre o S1-PAG oferece sensibilidade e especificidade de 85% ou mais (AUC 0,78; IC 95% 0,63-0,94) para discriminar respondedoras de não respondedoras ao CPM-test. Os achados desses estudos mostram que os sintomas cardinais da FM e marcadores de neuroplasticidade predizem a disfunção do SMDD, assim como os padrões de CFI em estado de repouso no S1-PAG podem ser potenciais marcadores para predizer a resposta à tarefa da CPM. Esses dados podem auxiliar na identificação de perfis para o planejamento individualizado do tratamento de pacientes com fibromialgia.