Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2017 |
Autor(a) principal: |
Pereira, Viviane Camejo |
Orientador(a): |
Dal Soglio, Fabio Kessler |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Não Informado pela instituição
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Palavras-chave em Inglês: |
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Palavras-chave em Espanhol: |
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Link de acesso: |
http://hdl.handle.net/10183/164755
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Resumo: |
Apesar da disseminação das sementes comerciais híbridas e transgênicas, muitas famílias no Rio Grande do Sul resistem como guardiãs de sementes crioulas realizando a conservação da agrobiodiversidade. Elas compartilham conhecimentos, práticas e crenças, organizam-se em associações de guardiões de sementes crioulas, estabelecendo redes e parceiros, buscando soluções para suas próprias demandas, ainda que em condições estruturais desfavoráveis. Assim, diversos elementos sociais, políticos, econômicos e culturais são envolvidos nas práticas de conservação. A biologia da conservação, ao não reconhecer o protagonismo e o potencial de muitas práticas imersas no conhecimento tradicional dos agricultores para a conservação nos agroecossistemas, não é suficiente para compreender as práticas destes agricultores familiares camponeses. Sendo assim, as indagações que motivaram a construir esta tese são as seguintes: Como se dá a conservação das sementes crioulas realizada por agricultores guardiões? Que práticas estão envolvidas nesta conservação e como elas se vinculam a outros aspectos além do biológico? O objetivo geral deste trabalho é compreender como os agricultores realizam a conservação das variedades crioulas, que práticas estão envolvidas e como elas se relacionam com outros elementos, além dos aspectos ecológicos, para a conservação. Os objetivos específicos são: identificar experiências de guardiões de sementes crioulas no Rio Grande do Sul; compreender o que são as sementes crioulas para os agricultores guardiões; compreender o que é conservação para os agricultores guardiões; analisar quais as práticas dos agricultores que contribuem para a conservação das variedades crioulas e compreender quais os elementos que estão envolvidos e se relacionam com a prática da conservação. Para alcançar estes objetivos, a partir de uma abordagem etnográfica, optou-se pelo recorte de casos-tipo representativos de guardiões na associação de guardiões das sementes crioulas de Ibarama e da associação de guardiões da agrobiodiversidade de Tenente Portela. A metodologia consistiu na convivência com três famílias em Ibarama e quatro em Tenente Portela visitando-as entre abril de 2014 e agosto de 2016. Além destas, outras famílias foram entrevistadas ao longo do trabalho de campo. Foram realizadas observações das práticas cotidianas e das percepções dos agricultores, realizadas entrevistas com gravação de áudio e transcrição. Como ferramentas auxiliares utilizaram-se a construção do mapa da propriedade e a tomada de fotografias perguntando aos agricultores para que me indicassem até cinco coisas na propriedade que eram muito importantes para eles. Para seguir os atores tomei a Perspectiva Orientada ao Ator (LONG, 2001, 2007) e para analisar as práticas dos agricultores e suas relações com as sementes crioulas tomei como base os conceitos de corpus de conhecimentos, práxis camponesa e kosmos (mundo das crenças) de Toledo (1991, 1993, 2001, 2013). Para analisar as relações entre as práticas individuais dos agricultores e como elas se envolviam com as práticas de outros agricultores na família e nas associações de guardiões tomei como auxiliar a noção de prática social de Reckwitz, e Schatzki, Knorr-Cetina e Von Savigny. A partir da prática social pude compreender que as sementes crioulas são um elo que conecta outros elementos da vida social dos agricultores, que neste estudo foram categorizados em dimensões: socioecológica, socioeconômica, política e cultural, todas permeados pelo aspecto ético com as gerações passadas e as futuras, relacionadas com a reciprocidade. As sementes crioulas remetem principalmente à ancestralidade, ao que é antigo e puro, demonstrando o orgulho da identidade de guardiões. A conservação das variedades crioulas entendida como prática social expressa mais do que intenção, mas uma atividade prática embebida de subjetividades presentes no mundo das crenças dos agricultores. Os guardiões de sementes crioulas são atores potenciais e necessários para a conservação das variedades crioulas, elemento importante da agrobiodiversidade que mantém a família e propriedade rural. Discuto, por fim, a etnoconservação como uma perspectiva que complementa as debilidades da perspectiva da biologia da conservação para pensar a conservação nos agroecossistemas com potencialidades para a orientação de políticas públicas e projetos de conservação da agrobiodiversidade. |