Resumo: |
O melanoma é um câncer de pele causado pelo crescimento anormal de células pigmentares (melanócitos), principalmente na pele e nas mucosas. É um dos tipos mais graves de câncer de pele, pois tem alto potencial metastático. Em casos avançados, a doença é difícil de ser controlada, resultando em uma baixa expectativa de vida. Estudos recentes indicam que fatores não genéticos influenciam a heterogeneidade do melanoma, sendo um subgrupo celular principalmente responsável pela recidiva. Contudo, não existe um consenso na literatura sobre esse perfil celular, comumente chamado de ciclagem lenta (do inglês, slow-cycling), ou modelos celulares com características inerentes desse fenótipo. Levando isso em consideração, escolhemos o modelo celular desenvolvido pela transfecção do gene da catalase na linhagem A375, originando os clones A375-G10 (G10) e A375-A7 (A7) que demonstram padrões de diferenciação e agressividade complementares. Assim, o objetivo dessa tese foi revisar a literatura na busca de marcadores e características para definir o fenótipo de ciclagem lenta para, então, verificar o potencial das células A7 e G10 como modelo de estudo desse fenótipo, e, finalmente, validar seu poder prognóstico e preditivo em amostras clínicas. Tanto a superexpressão quanto a diminuição do nível de expressão do fator de transcrição associado à microftalmia (MITF) demonstraram desempenhar um papel no desenvolvimento de ciclagem lenta no melanoma. A superexpressão e a baixa expressão desses genes estão envolvidas na regulação da diferenciação e resistência aos tratamentos. A alta expressão de MITF promove um fenótipo diferenciado devido à regulação positiva dos genes MITF, MLANA, TYR. No entanto, as células de ciclagem lenta com baixa expressão de MITF, também conhecido como MITFlow, apresenta enriquecimento de genes relacionados a transição epitelial-mesenquimal (EMT), sinalização TGFβ, assim como alta expressão de expressão da JUN, BRN2 e AXL. Independente da expressão de MITF, o fenótipo de ciclagem lenta apresenta um estado quiescente, sendo seu metabolismo dependente de respiração mitocondrial. Ao investigar essas características no modelo celular composto por A7 e G10, observamos que a linhagem G10 apresenta aumento da parada do ciclo celular G0/G1, e maior atividade de β-galactosidase lisossômicas, assim como aumento na expressão de genes relacionados ao as células ciclagem lenta MITFlow. Além disso, demonstramos que G10 apresentam elevado consumo de oxigênio, aumento no número de mitocôndrias, e maior imunoconteúdo de proteínas da fusão mitocondrial em comparação a célula A7. Dessa forma, observamos que a linhagem G10 apresenta enriquecimento de características do fenótipo de ciclagem lenta. Posteriormente, analisamos a expressão diferencial de genes relacionados a esse perfil celular em banco de dados de pacientes com melanoma. Para nossa surpresa, dos seis bancos analisados, apenas dois demostraram diferença estatística. Além disso, a análise mostrou que a maioria desses genes apresentam expressão reduzida. Ao estratificar os dados do banco GSE65185 entre a alta ou baixa resposta (maior ou menor que a média) das amostras de pacientes, antes da intervenção terapêutica, e analisar a expressão dos genes MITF, notamos que a maioria de pacientes com baixa resposta terapêutica apresenta baixa expressão de MITF. Nesse sentido, trazemos à tona a discussão sobre a dificuldade de encontrar na clínica um fenótipo celular descrito extensivamente in vitro como principal fator na agressividade do melanoma. |
---|