Gênero e exposição a violência : preditores de progressão rápida do uso de drogas em usuários de crack

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Rebelatto, Fernando Pezzini
Orientador(a): Diemen, Lisia von
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/229424
Resumo: O Brasil é um dos maiores mercados de cocaína no mundo. O uso de crack é um grande problema de saúde pública nas cidades brasileiras, e está frequentemente atrelado à vulnerabilidade social. Apesar do seu alto potencial dependógeno e de ser uma droga que frequentemente leva indivíduos a procurarem tratamento, o crack dificilmente é uma das primeiras substâncias psicoativas a serem usadas. Em vez disso, drogas legalizadas (como o álcool e o tabaco) e outras drogas ilegais (como a maconha e a cocaína aspirada) são frequentemente usadas antes do crack. Essa trajetória do uso de drogas pode ser denominada de progressão para o uso de crack. Embora este seja um fenômeno comum, poucos estudos avaliaram os fatores associados a essa progressão, como o quão rápida ela pode ocorrer e quais fatores diminuem o seu intervalo de ocorrência. A exposição a eventos adversos – especialmente experiências abusivas, como violência sexual e física – é comum entre pessoas com transtornos por uso de substâncias. Esses tipos de experiências são importantes preditores para diversos transtornos psiquiátricos, e podem ser fatores elegíveis para uma progressão mais rápida para o uso de crack. É importante considerar, no entanto, que os padrões de uso de crack diferem entre homens e mulheres que usam essa substância. Enquanto os homens apresentam início mais precoce do uso de drogas em geral, mulheres apresentam maior gravidade do uso de crack e procuram por tratamento mais cedo. Além disso, mulheres tendem a ser mais expostas a situações de violência ao longo da vida do que os homens. Assim, esta dissertação visa explorar a relação entre esses fatores, avaliando se a progressão do primeiro uso de drogas até o uso de crack difere de acordo com o gênero, e se o relato de violência física ou sexual impacta o tempo de progressão. Este é um estudo transversal, consistindo numa análise secundária de uma base de dados que reuniu três projetos de pesquisa, que entrevistaram 896 usuários de crack (548 homens; 348 mulheres) em unidades de tratamento para dependência química em seis capitais brasileiras. Modelos de regressão de Cox avaliaram o tempo de progressão entre o primeiro uso de drogas e o uso de crack. Essas análises compararam os gêneros de acordo com a ausência ou presença de violência física ou sexual, considerando a sua ocorrência antes ou após o início do uso de crack quando presentes. Em geral, as mulheres apresentaram uma progressão mais rápida para o uso de crack quando comparadas aos homens (HRs variando entre 1,24 e 2,38, p<0,05). Uma progressão similar foi observada entre homens não expostos e homens expostos a violência sexual ou física antes do primeiro uso de crack (p=0,167 e p=0,393, respectivamente). Em ambos os gêneros, observou-se uma progressão mais rápida entre indivíduos expostos a esses tipos de violência após o início do uso de crack (HRs variando entre 1,45 e 2,38, p<0,01). Apesar de a exposição precoce a violência não ter interferido no tempo de progressão para o uso de crack, nossos achados destacam uma maior vulnerabilidade à qual usuários de crack estão sujeitos, uma vez inseridos no contexto de uso da droga. Esses resultados encorajam um tratamento diferenciado, com enfoque em questões de gênero e características individuais.