O estatuto morfológico e prosódico da sufixação avaliativa em português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Ulrich, Camila Witt
Orientador(a): Schwindt, Luiz Carlos da Silva
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/233036
Resumo: O presente trabalho trata do estatuto morfológico e do estatuto prosódico da sufixação avaliativa em português brasileiro – em especial, dos elementos sufixais -inho, -zinho e -íssimo. Esses sufixos diferenciam-se dos demais sufixos da língua por serem modificadores – e não núcleo das estruturas complexas (VILLALVA, 1994, 2000) – e por constituírem domínio de aplicação de regras fonológicas do nível da palavra (LEE, 1995), sendo rotulados como composicionais (SCHWINDT, 2014). Esse último critério ainda leva à consequência de que sua anexação se dará em um nível morfológico já equivalente ao de uma estrutura acentuada. A sufixação avaliativa em português brasileiro se configura, portanto, como um dos loci do não isomorfismo entre os conceitos de palavra morfossintática e palavra fonológica. Por esse motivo, a presente tese investiga os constituintes mencionados dentro de cada uma destas perspectivas, hipotetizando que há evidências empíricas para a identificação de dois grupos de sufixos no PB. Considerando-se que sufixos modificadores mantêm propriedades gramaticais da base (ex. [dente]N → [dentinho]N), enquanto sufixos derivacionais são capazes de alterar propriedades da base (ex. [dente]N → [dental]ADJ), buscamos investigar se há diferença de processamento entre palavras formadas por esses dois grupos, hipotetizando que a decomposição de palavras complexas com sufixos avaliativos seja feita de forma mais rápida. Para formação do corpus de análise, selecionamos bases que aceitassem formações com os sufixos -eiro e -inho, as quais foram inseridas em uma tarefa de associação de palavras (TAP), a fim de que fossem atestadas como conhecidas ou não por 100 participantes. Não há diferença significativa entre as duas classes e os informantes mostram ter domínio sobre o conhecimento de quase a totalidade dos itens. A partir dos resultados encontrados, desenvolvemos uma tarefa de decisão lexical (TDL), em que avaliamos o índice de acertos e o tempo de reação nas respostas de 80 falantes de PB para os estímulos apresentados. O teste foi composto por 32 itens experimentais divididos em duas listas e mais 75% de itens distratores (25% palavras e 50% pseudopalavras), e foi ancorado na plataforma Psytoolkit 3.2.0 (STOET, 2010, 2017). Os resultados revelam índices de acurácia altos e valores de tempo de reação bastante próximos para as duas condições morfológicas testadas, não havendo diferença significativa entre elas. Desenvolvemos, por fim, uma tarefa de decisão lexical com priming (TDLP), em que analisamos as variáveis realidade do estímulo (se palavra ou pseudopalavra) e relação morfológica (se identidade, modificação ou derivação). A partir de 16 palavras reais e 16 pseudopalavras como base, constituímos um corpus de 96 pares experimentais. Incluímos, ainda, 2/3 de pares de itens distratores ao experimento, o qual foi aplicado no formato de três listas a 80 falantes de português brasileiro na plataforma Psytoolkit 3.3.0. Os resultados referentes ao índice de acertos mostram diferença entre palavras e pseudopalavras; a menor taxa de acertos se revela em formas diminutivas existentes na língua. Os valores de tempo de reação revelam que palavras e pseudopalavras apresentam diferenças significativas; em relação ao tipo de relação morfológica, a relação de identidade, com menor tempo de reação, se opõe significativamente às demais, e não há diferença entre as condições complexas. Assim, sugerimos que a função do afixo parece não exercer papel no processamento nos dados analisados. No âmbito da fonologia, com base na Fonologia Prosódica (NESPOR; VOGEL, 1986), apresentamos processos que têm como domínio a palavra prosódica, como a neutralização das vogais pretônicas (ex. b/ɛ/lo – b/ɛ/linho – b/e/leza), os quais apontam para a classificação de -inho, -zinho e -íssimo como palavras e para a existência de composição prosódica nestas estruturas. Além disso, sugerimos que esta composição esteja abarcada sob um constituinte intermediário entre a palavra e a frase fonológica (VIGÁRIO, 2007; VOGEL, 2008). A fim de verificar se há evidências empíricas da existência de duas proeminências acentuais nas palavras complexas formadas pelos sufixos investigados, analisamos os parâmetros duração e ênfase espectral de sílabas fonológicas e unidades VV (experimentos 1 e 3) e F1 e F2 de vogais (experimentos 2 e 4) em dados provenientes de 8 falantes de português brasileiro. De modo geral, parte dos resultados mostra que sílabas portadoras do acento da base de formações composicionais (ex. [no] ou [ov], em novinho) apresentam proeminência, as quais exibem significância estatística se comparadas às mesmas sílabas em formações não composicionais (ex. [no] ou [ov], em novilho). Em relação à qualidade vocálica, a comparação de formantes é capaz de opor vários pares de formações de natureza morfoprosódica distinta. Se olharmos para a qualidade vocálica apenas nas formações composicionais, podemos, ainda, sugerir que esses elementos, apesar de serem palavras fonológicas independentes, com autonomia acentual, revelam essa autonomia em graus distintos. Assim, corroboramos a hipótese geral de que, pelo menos em parte dos dados investigados, há evidências empíricas para a identificação de dois grupos de sufixos no PB.