Estudo da qualidade ambiental de regiões com captação de água para abastecimento público

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Gameiro, Paula Hauber
Orientador(a): Vargas, Vera Maria Ferrao
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/212897
Resumo: A desinfecção da água é um processo de grande importância para redução de doenças veiculadas pela água contaminada. Entretanto nos últimos 40 anos pesquisadores verificaram a correlação do consumo de água tratada com efeitos à saúde, como o câncer. Já foi comprovada a formação de subprodutos de desinfecção (DBPs) durante a reação do cloro com a matéria orgânica presente no meio aquático. Recentemente tem sido relatadas a presença de compostos em concentrações muito baixas no ambiente, os micropoluentes emergentes (MEs), sendo a maioria desses ainda não regulamentada quanto à limitação de seus usos. Assim, é válido considerar que a qualidade da água tratada depende da água bruta, pois muitos contaminantes podem ser carreados até o tratamento final. MEs estão presentes na composição de fármacos, produtos de cuidados pessoais, hormônios esteróides, disruptores endócrinos, substâncias químicas industriais e pesticidas. Pesquisas anteriores na área de estudo verificaram contaminação do sedimento, em locais destinados à captação de água potável no Rio Taquari (RS), próximos a uma área em processo de remediação de solo contaminado por conservantes de madeira. Dando continuidade, o objetivo do presente estudo foi analisar a presença de contaminantes em locais de captação de água potável, definindo as fontes e os efeitos tóxicos e genotóxicos desses estressores como um parâmetro de qualidade para o ecossistema, sua influência na água tratada e possíveis reflexos para a saúde humana. Os locais de captação no rio Taquari e as estações de tratamento de água, ETAS (WTP), estudados nesta bacia foram: (Ta063 - WTP01), (Ta032 - WTP02), (Ta011 - WTP03) e (Ta006 - WTP04). Os pontos de amostragem foram nomeados de acordo com as letras iniciais do rio (Ta), seguidas pelo número de quilômetros de distância em relação à foz. Na primeira etapa (2015), foi realizada a investigação da qualidade do Rio Taquari através de análises químicas, de toxicidade, genotoxicidade e mutagênese nos sedimentos e águas em locais destinados à captação de água potável. Para definir os usos e cobertura do solo como possíveis fontes de contaminantes da bacia foram utilizadas ferramentas de sistemas de informação geográfica (SIG). Os resultados dessa etapa da pesquisa indicaram a presença de estressores citotóxicos e genotóxicos, em sedimento e em água, com prevalência de mutagênicos de ação direta. Na análise química dos estressores descritos em estudos anteriores (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e metais pesados) observou-se pequena contribuição para explicar os danos detectados nos atuais ensaios de genotoxicidade. As respostas do ensaio Salmonella/microssoma indicaram que o local Ta032 teve a maior potência mutagênica em extratos orgânicos de sedimentos, enquanto o Ta063 em extratos de água. Análises no teste de Allium cepa, aplicado aos sedimentos in natura, mostraram indução significativa de micronúcleos em Ta032. Entretanto, bioensaios com embriões de Danio reio (FET), nas amostras de água superficial, não detectaram respostas significativas. Este conjunto de resultados gerou alerta quanto à natureza da mistura complexa presente nos locais de captação de água potável, somadas às evidências definidas pelas análises de SIG quanto ao predomínio de atividades relacionadas à agricultura. Além disso, em Ta063 foram encontradas atividades industriais de médio a alto potencial poluidor próximas. Na segunda etapa de trabalho (2017) foi investigada a água antes (bruta) e após o tratamento (tratada) para verificar a influência da carga orgânica presente nesse manancial na geração de subprodutos perigosos durante o processo de cloração. As coletas foram realizadas no interior das estações de tratamento. Os resultados mostraram que a água bruta teve uma menor contaminação em relação à primeira etapa do estudo, sendo a mutagênese encontrada apenas na WTP03, com e sem ativação metabólica (S9). Nas amostras de água tratada foram encontrados resultados significativos para as duas linhagens de Salmonella, sendo a TA100 mais sensível em ensaios diretos. O local com maior potência mutagênica foi WTP04, seguido de WTP02, WTP01 e WTP03. Dados de amostragem realizada anteriormente no local WTP04 (2015), incluídos neste estudo, mostraram que compostos mutagênicos na água tratada deste local já estavam presentes. Alguns resultados observados na água bruta e tratada apresentaram padrões diferentes de mutagênese esperada em consequência da formação de DBPs e detectadas pelo ensaio Salmonella como relatado na literatura, gerando preocupação quanto à origem de contaminantes presentes nestas amostras. As análises químicas indicaram que o local WTP04 foi o que apresentou maiores teores de MEs totais, sendo a atrazina, paracetamol e ácido salicílico, os predominantes. Nos demais locais também foram encontrados MEs, sendo o WTP02 com menor valor total na água tratada, representando uma redução de 45,3% de MEs comparados com a bruta. Embora os resultados da água bruta do segundo trabalho tenham apresentado menor potencial mutagênico, a presença de MEs e as respostas de mutagênese nas amostras da primeira etapa, indicaram que estão sendo carreados contaminantes para o rio, sejam por esgoto doméstico, atividades agrícolas ou industriais e depositados no sedimento. Os resultados de MEs mostraram que, embora apresentem redução nas águas tratadas em relação às brutas, ainda estiveram presentes após tratamento. Além disso, a maioria dos MEs, com exceção da atrazina, não contribuíram na mutagênese detectada pelo ensaio Salmonella, já que as amostras brutas foram quase todas negativas. Entretanto, após tratamento, a mutagênese foi encontrada em todas as ETAS, podendo os MEs também estarem reagindo com o cloro, contribuindo na formação de DBPs mutagênicos com padrão diferente do esperado, após o tratamento convencional. Assim, é necessário reforçar um alerta quanto à presença de substâncias perigosas nos locais de estudo, possivelmente distribuídas para a população; a necessidade de controle, fiscalização e estabelecimento de melhores padrões para a preservação da vida aquática, conservação dos mananciais e potabilidade da água distribuída à população.