Narrativas de uma presença : as territorializações da re-existência dos catadores de resíduos no Quarto Distrito, em Porto Alegre

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Sardi, Maria Clara Schilling
Orientador(a): Caron, Daniele
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/271500
Resumo: O modo como a sociedade trilha a produção da própria existência nos levou à crise planetária atual. Relacionada a demais aspectos da crise - mudança climática, perda de biodiversidade e poluição, a questão dos resíduos sólidos urbanos ainda enfrenta a negligência do Estado e o descaso da sociedade. Nas cidades, os restos de uma população saciada são recolhidos continuamente por catadoras e catadores de material reciclável, que retêm esses cacos e os ressignificam como modo de sobrevivência. Em Porto Alegre, há uma presença significativa de pessoas envolvidas com a catação no Quarto Distrito, antiga zona industrial da cidade, área que passa hoje por um processo de transformação urbana liderado pelo mercado imobiliário e convocado por um discurso que se apropria de conceitos como espaço público, participação e sustentabilidade, e provoca a remoção física e simbólica de comunidades. Os processos de territorialização dos catadores de resíduos, no entanto, permanecem acontecendo pela re existência cotidiana desse grupo social, que vive à margem daquilo que a cidade tenciona ostentar. Re-existir, assim, é lutar não somente pelo acesso à infraestrutura, equipamentos urbanos e habitação, mas pela participação nos processos de construção da vida urbana. É exercer o direito à cidade. Isso posto, esta pesquisa intenta discorrer, a partir da escuta das narrativas de catadores do Quarto Distrito e das suas corpografias, que são as relações dos seus corpos com a cidade, sobre como eles tensionam o planejamento urbano neoliberal que produz a cidade-mercadoria. Para tanto, o trabalho propõe a cartografia de processos de territorialização de catadores por meio de dispositivos de conversa, de forma a oportunizar um encontro entre corpos catador pesquisador e a coprodução de narrativas. Organizadas em verbos, de forma a aludir ao movimento por meio do qual construímos o mundo ao nosso redor, são apresentadas reflexões sobre a experiência do corpo-catador. Tais reflexões exploram o conceito de linha para falar dos trajetos por ele traçados e das relações sociais por ele estabelecidas. Reconhece-se que tais linhas de movimento e experiência coletiva compõem uma trama não planejada na cidade-mercadoria - é uma camada outra nas relações da cidade, feita de linhas delgadas e frágeis, mas que estruturam em conjunto uma trama forte, ainda que invisibilizada. A compreensão dessa trama pode apoiar, em dado momento, a construção de políticas urbanas que reconheçam o saber popular e o direito à cidade desses atores sociais.