VRÁ! (ou entre ela e eu): discurso de um sujeito drag queen

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Costa, Isaac Itamar de Melo
Orientador(a): Ferreira, Maria Cristina Leandro
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/255679
Resumo: Esta tese visa formular e defender o conceito montação como processo discursivo que funciona como mecanismo de reconhecimento de si em um corpo outro. Este processo passa pela transformação gradual da imagem de si, e, concomitantemente, pela filiação do sujeito a uma posição discursiva dissidente. Essa posição é sustentada, no caso da drag, objeto de minha reflexão teórica, por um semblante específico. Desse arranjo participa, ainda, um anteparo material, um espelho: reflexo que torna tangível a imagem do novo corpo em vista. Utilizo o termo anteparo por considerar que o olhar é do campo do real, e que o artista precisa, por conta da ação violenta desse olhar, criar anteparos que o guardem e protejam do encontro com o traumático; nesse sentido, a arte atua na domesticação do olhar e o espelho confere forma à figura que atuará como escudo diante daquele que vê. É em direção ao espelho que o sujeito lança um olhar e, de volta, é olhado por esse outro corpo em produção, materialização de uma posição que diz de um exercício artístico, mas também de um desejo e de uma filiação a uma rede de sentidos. Deparado com esse outro contorno, o performer passa, então, a significar no interior de outra posição de sujeito consubstanciada ao corpo modificado, montado. A maquiagem drag contorna o semblante da posição enviada (como nomeio essa posição dissidente), imagem montada por um sujeito performer. Esse sujeito não consegue acessar sem resistência os sentidos advindos da formação discursiva via posição enviada, por conta da restrição cultural e ideológica que incide sobre a corporificação de determinados signos femininos, que representam direção diversa da masculinista, termo que refere a posição dominante da formação discursiva em que se assentam sentidos ligados à masculinidade e à virilidade. É por intermédio da drag que o sujeito consegue resistir à coerção da norma imposta pela formação ideológica e disseminada pela formação cultural, rompendo com a imagem masculina sustentada por uma formação imaginária específica. O sujeito cria um semblante para a posição enviada, contra-identificada com a posição masculinista. Essa posição dissidente da formação masculinista envia sentidos do masculino em direção ao feminino, apesar de nunca completamente revestir uma formação antagônica, feminista, por exemplo; a drag se inscreve num espaço de entremeio, de tensão, próprio à arte. A posição enviada, assim, é autorizada a dizer e a representar signos relacionados à formação imaginária que veicula o protótipo imagético do feminino (mas não se superidentifica com ela). Montar-se, nesses termos, significa resistir, desobedecer à determinação de um padrão imposto culturalmente e, assim, agir conforme os princípios de uma posição que não concorda com a reprodução de sentidos masculinistas, fundados sobre a ideia da violência e do desrespeito contra a mulher e qualquer outro ser que a ela seja empático. A drag provoca, critica e propõe reflexões sobre a reprodução desses padrões sustentados pelo discurso.