A uberização do trabalho docente : novos dilemas para velhos problemas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Vieira, Maura Jeisper Fernandes
Orientador(a): Rocha, Cristianne Maria Famer
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/289840
Resumo: A precarização do trabalho docente é uma recorrência histórica no Brasil, mesmo com as tentativas de resistência, tornou-se cultural. O resultado disso são baixos salários, excesso de aluno em salas de aula, necessidade de multijornadas, redução das horas de planejamento, entre outras. Ao mesmo tempo, as mudanças nas concepções do trabalho sempre ocorreram, mas sofreram alterações relevantes com o neoliberalismo instituído como uma racionalidade vigente. O discurso neoliberal do empresariamento de si subjetiva os trabalhadores a tal ponto de esses abrirem mão (quase que) voluntariamente de direitos importantes conquistados através de muitas lutas. No caso do trabalho docente, a precarização ocorre pelos novos modos de exercer a profissão a partir da articulação do neoliberalismo tecnológico e da flexibilização das leis trabalhistas. Nesse contexto, a uberização é compreendida como uma nova forma de organização do trabalho a partir da expansão tecnológica. Esse movimento denomina-se Economia do Compartilhamento e iniciou nos Estados Unidos com a intenção de resolver grandes problemas do cotidiano com soluções tecnológicas. Essas ideias inovadoras e disruptivas necessitavam de investimento financeiro e, pelo seu potencial de ganho monetário escalável, atraíram grandes investidores que apostaram na criação de plataformas digitais e aplicativos. Essas inovações têm sido utilizadas de forma exponencial, mas destaca-se o potencial de absorção das atividades de prestação de serviços, como aquele da Educação. Assim, esta pesquisa tem por objetivo analisar o processo de uberização do trabalho docente, no Brasil, a partir de uma plataforma digital (online) de contratação direta de professores. A pergunta de pesquisa desta investigação é: como está se dando o processo de uberização do trabalho docente no Brasil? O percurso teórico-metodológico, inspirado em autores como Michel Foucault, Tom Slee, Pierre Dardot, Christian Laval e Evgeny Morozov, foi realizado a partir da análise dos dados a respeito da oferta de trabalho docente em uma plataforma digital chamada Superprof, que teve rápido crescimento nos últimos anos e tem mais de vinte milhões de perfis docentes no mundo. O corpus de análise foi constituído pelas informações disponíveis nos perfis dos docentes que ministram aulas na cidade de Porto Alegre, RS. Foram encontrados 39 perfis de “docentes” cadastrados que atendem os requisitos da pesquisa e todos foram considerados. Como resultado, as condições de possibilidades neoliberais articuladas ao trabalho de plataforma têm produzido neoprofessores que apresentam características como competitividade, adaptabilidade e superação contínua, meritocrática e gamificada. A uberização se dá pela desprofissionalização docente, pela má remuneração e a perda dos direitos trabalhistas, além do funcionamento na lógica de trabalho intermitente (24 horas por dia, sete dias por semana). As contratações de docentes pela plataforma Superprof são uberizadas e ocorrem com a máxima precarização e exploração do trabalho. O aprofundamento da precarização do trabalho, a partir do uso de plataformas digitais, é o novo dilema para o velho problema da precarização histórica da profissão docente, no Brasil.