Existo porque resisto : a Casa de Referência Mulheres Mirabal como corpo-território e expressão política das lutas feministas no espaço urbano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Marinho, Bárbara Rodrigues
Orientador(a): Caron, Daniele
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/261795
Resumo: As histórias das cidades costumam ser contadas tomando como ponto de partida as estruturas de poder hegemônicas patriarcais, que priorizam a ideia de um sujeito neutro e universal que habita o espaço urbano. A desconsideração e silenciamento das experiências de pessoas consideradas dissidentes se materializam, sobretudo, nos diversos tipos de desigualdade e violência de gênero no território, e interferem nos processos de planejamento urbano tradicionalmente alicerçados na lógica do capital. Apesar disso, outras formas de existência se instauram reivindicando políticas públicas para as mulheres e direitos básicos universais, como a moradia, educação, saúde, bem como a segurança e integridade dos corpos marcados cotidianamente por violências e opressões. Um exemplo disso são as ocupações urbanas organizadas pelos movimentos sociais feministas, que se caracterizam como territórios de insurgência, solidariedade, cooperação e resistência, e que operam a cidade na lógica do corpo-território e da produção de comum. Essa investigação tem como lócus de pesquisa a Casa de Referência Mulheres Mirabal (CRMM), ocupação urbana feminista que existe desde 2016 na cidade de Porto Alegre/RS, coordenada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário e que acolhe e abriga mulheres vítimas de violência doméstica. Busca-se, através das narrativas produzidas com estas mulheres, refletir sobre como a vida em comunidade não legitimada pelo planejamento urbano vigente patriarcalizado se expressa politicamente como corpo-território. A abordagem teórico-metodológica da narrativa se justifica pela necessidade de se aproximar de um tipo de produção do conhecimento que aposta em uma epistemologia da experiência, permitindo acessar diferentes enunciados sobre formas de viver na cidade, e mapear práticas urbanas cotidianas que operam a partir de uma lógica distinta da hegemônica. A produção de narrativas foi guiada por um processo de vinculação de inspiração etnográfica com as mulheres da CRMM, tendo como ferramentas a escrita implicada, as entrevistas narrativas individuais não estruturadas, além de leituras e produção de mapas coletivos. Foi possível identificar práticas de corpo-território da Casa de Referência Mulheres Mirabal que tensionam a lógica patriarcal vigente nos estudos urbanos, organizadas em três grandes atos: o corpo-território como levante – onde emergem as narrativas sobre o início da organização coletiva das mulheres para construção da Mirabal; o corpo-território como campo de batalha – onde aparece a disputa discursiva com a mídia hegemônica e os diversos tipos de violência operadas pelo Estado; e o corpo-território como produção do comum – onde se tecem alianças e práticas sociais que diferem da lógica neoliberal e individualista, resgatando valor de uso do espaço urbano. Esses três atos demonstram como a luta da CRMM se expande e reverbera em diferentes escalas do território, e como é possível transformar a realidade das mulheres a partir de uma luta coletiva.